FLY FISHING NA TRANSPANTANEIRA - DE VOLTA AO PASSADO

Texto: Marco Valerio da Costa
Fotos: Constança Costa
E-mail do autor: marco67@vento.com.br


 

       Há alguns anos, relatei em um dos Boletins Informativos da APF - Associação dos Pescadores com Fly - uma pescaria realizada na Transpantaneira. A lembrança de boas pescarias, visando pequenos peixes e pescando numa modalidade pouco conhecida para os moradores daquela região, nunca saíram da minha memória.


       No último mês de julho resolvi "voltar às origens" e fazer outra pescaria na região. DE VOLTA AO PASSADO - pela Transpantaneira, era tudo que eu queria.
       A Transpantaneira inicia-se, oficialmente no posto de fiscalização da FEMA (Fundação Estadual do Meio Ambiente), órgão responsável pela preservação da área, em parceria com o IBAMA. É uma estrada que corta o Pantanal e repleta de pequenas pontes (São aproximadamente 140 pontes em pouco mais de 160 km de estrada), ligando a cidade de Poconé ao Porto Jofre.
       Partindo de Cuiabá, por volta das seis da manhã, rodamos os 100 km que separam as duas cidades de forma tranqüila.
       Minha idéia era justamente a de pescar nestas pontes à beira da estrada, exatamente como fazia, quando morava em Cuiabá.


 
Que tal pinchar a mosca aqui!  

       Com o dia amanhecendo, a expectativa é que tivéssemos a oportunidade de ver e apreciar uma maior quantidade de bichos (aves, jacarés, capivaras, talvez uma sucuri ou uma onça pintada).
       Ao chegar ao Posto, fui informado por um fiscal de plantão sobre as condições da estrada e das pontes e também da possibilidade de se pescar nas pontes, desde que eu praticasse o pesque e solte.

 

       Entretanto, constatar que o Pantanal estava muito seco para este período (pois há dois anos que não se tem um período de cheia muito representativo para a região), foi, sem dúvida, a minha maior surpresa. Certamente, não iria encontrar algum local com facilidade para pescar, principalmente nas condições e da forma que eu pretendia.

 
Em outras épocas a água chegava até a vegetação mais alta da foto.  

      Mesmo assim segui em frente, a procura de algum ponto que pudesse me oferecer a oportunidade de "matar a saudade" daquele que considerava o "quintal de casa".
      Embora o cenário parecesse triste, observei muitas aves e jacarés se aproveitando dos poucos locais que continham água e alimento. Agrupavam-se em grandes bandos, o que fazia a alegria de um grupo de estrangeiros que passeava pela região, fotografando a fauna.

 

 

      Em determinado ponto da estrada, cerca de 50 km do portão de entrada, encontrei o local que procurava.
      A água estava absolutamente limpa e era possível de se ver alguns peixes que nadavam por ali.
      A pesca com fly, nestas condições, é feita no visual, ou seja, localiza-se os peixes e arremessa-se a isca a frente do cardume.       Meu objetivo era, de início, os cardumes de piraputangas, que em outras oportunidades eram abundantes, porém, desta vez, nenhuma foi avistada.
      Caminhando um pouco mais pela beira da rodovia cheguei até uma ponte e pude avistar a movimentação de alguns peixes. Naquele instante, porém, não consegui identifica-los.
      Usando uma vara Peacemaker # 4, com um pequeno streamer atado ao líder, fiz um arremesso em direção aqueles peixes.
      No segundo arremesso, trabalhando a isca, o peixe atacou. E para minha alegria, era um valente Apaiarí.
      Conhecido na região como Acará-açú, este peixe tem uma resistência incrível e "briga como peixe grande". Diversos outros foram pescados e todos devolvidos. Com equipamento leve e equilibrado a pescaria se torna ainda mais agradável.

 
 
 

      Quando as ações diminuíam em determinado local, era só caminhar para um outro, avistar uma movimentação na água e pinchar. Lá estava ela, a "estrela" dessa pescaria, o Apaiarí.
      Assim foi durante boa parte do dia. Outros pequenos peixes também entraram. Saicangas, Sauás e algumas Sardinhas do Pantanal (peixes que serão foco de uma outra matéria sobre o pantanal).
      Pescaria feita, passeio realizado, era hora de retornar.

 

Três observações que faço desta pescaria:
 
1 - É muito triste ver o Pantanal com tão pouca água. Será que poderá se transformar num grande deserto? Só o tempo será capaz de responder.
 
2 - O Pantanal não vive só de: pacús, dourados, cacharas e pintados que fazem a alegria do pescador. Pequenos peixes e em grande variedade também podem ser encontrados por lá, tais como: piraputangas, apaiarís, sardinhas, saicangas, traíras, sauás, lambaris, pacupevas, piaus, piranhas e tantos outros.
 
3 - Devemos pescar de acordo com aquilo que os rios estão nos oferecendo naquele momento. Se não for possível encontrar com determinado peixe, parta para outro. O importante é pescar, não significando muito a quantidade, o tamanho ou a modalidade. Soltar o peixe também é gratificante. Fazer disto um hábito é, sem dúvida, uma das formas de preservar o futuro da pesca.


 

Equipamento de fly utilizado:
 
Vara Peacemaker # 4
 
Carretilha Plus 4
 
Linha WF-F nº 4 - Rio, com líder de 9 pés, 5 Lb. (cônico) e tippet de 5 X.

 


 

Iscas:
 
Streamers em cores claras; poppers, grasshoppers (com pouco resultado).

 


 

Sobre o peixe:
 
APAIARI - Astronotus ocellatus - Cichlidae - Acará-açu, Acará-grande, Acaraú-açu, Apiari, Bola-de-ouro, cará-açu, Corró baiano, Corró chinês, óscar.
 
Peixe de escamas, de cor verde escura, tendendo para o preto, com manchas vermelhas, a cauda é ornamentada com um ocelo escuro no centro e vermelho/ou alaranjado ao redor, daí sua denominação. É onívoro, vive em cardumes, em águas cuja temperatura oscila entre 20 e 30º C, morrendo em temperaturas inferior a 10ºC. Na natureza Pode pesar até 1,5 kg e medir entre 35 e 40 cm.
 
Agradecimentos especiais:
 
- Top Marine e Top Pesca Magazine.
- 100 (Pesca com Mosca), Jonas (The Fly Angler) e Gregório (Greg´s) pela construção das iscas utilizadas.
- MTK