Trutas Gaúchas
Julho de 2004

Texto: Johanes "Jonas" Duarte
E-mail do autor: tfa@theflyangler.com.br
Fotos:
Dr. Carlos Augusto Andriolli


 
 

       Paisagem de montanha, grandes pastos, lindas araucárias, um vento cortante que vai até a alma, histórias de pumas e graxains, trutas em rios preservados, um canyon belíssimo,isto é um pouco de São José dos Ausentes na serra gaúcha, a cidade mais alta e fria do estado do Rio Grande do Sul.

 
 

       Voltando um pouco no tempo, nossa história começa em plena Patagônia Argentina em fevereiro de 2004 quando nosso amigo gaúcho Irineu Rocha, de Caxias do Sul nos convidou a conhecer a pescaria de trutas que é feita na cidade de São José dos Ausentes no Rio Grande do Sul.
 
       Então passado algum tempo de nosso retorno da Argentina resolvemos colocar a super Veraneio de nosso amigo Carlos Andriolli na estrada novamente.

 

       Saímos na madrugada de uma quarta-feira da cidade de Campinas e após percorrermos a BR 101 sem maiores problemas chegamos na cidade de Araranguá, onde desviamos para a cidade de Ermo, depois Turvo e em seguida Timbé do Sul município que fica no pé da serra da Rocinha, à partir deste momento a subida da serra foi em terra batida e tranqüila para nossa “viatura”.

 

       O próximo destino no alto da serra era a cidade de São José dos Ausentes onde no caminho podíamos avistar alguns canyons da belíssima serra.
 
       Quando se acaba a subida imediatamente um campo de pasto baixo toma conta do visual e começam aparecer os muros de pedras chamados de taipa, muito comuns na região.
 
       Os pastos se alternam com bosques onde se encontram muitos animais nativos e alguns “intrusos” como os javalis.

 
 
 

       Logo chegamos na cidade de São José do Ausentes e com um desvio seguimos para o sub-distrito de Silveira, um local muito tranqüilo, onde temos que desviar de cavalos e vacas que algumas vezes estão amarrados no portão das casas.
 
       Depois de perguntar a direção da pousada Potreirinhos sabemos que temos pouco claridade e queremos chegar o quanto antes mesmo porque não conhecemos o caminho, mas como já tínhamos informações do Irineu e do amigo Lauro Rosset, o caminho é todo muito bem sinalizado com placas do Projeto Graxaim Carçado, projeto este que tem o apoio de muitos flyzeiros gaúchos, a Agapia, fazendas da região, e sem esquecer a prefeitura local.

 

       A nossa chegada na fazenda aconteceu já no escuro e prontamente fomos recepcionados pela família do Chico, da Nilda e seus pais.

 
 
 

       Após muita conversa jantamos e fomos dormir para enfrentar três dias de pesca e com possibilidades de frente fria e muita chuva.

 

Rio Silveira

 

       Este lindo rio apresenta várias situações de pesca, partes estreitas ou mais largas, pontos bem rasos ou com poções fundos, águas lentas e rápidas, podemos pescar tanto da margem ou dentro da água.
 
       Uma característica deste rio é que ele tem uma pequena vegetação nas pedras submersas então não se descuide porque se você tiver usando ninfas lastreadas nas partes rasas do rio terá um enrosco na certa.

 

       Para compensar, o visual na extensão do rio são de belos campos de pastagens ou com bosques de araucárias, estas árvores estão protegidas pôr leis, haja visto a exploração predatória que houve no passado, somente em São José dos Ausentes existiam dezenas de serrarias, graças as leis ambientais todas as serrarias se mudaram e assim hoje podemos curtir um pouco da linda paisagem da serra gaúcha.

 
 
 

       Acordamos bem cedo e após um café da manhã fantástico fomos ao rio, depois de uma pequena caminhada começamos a pescar logo atrás da pousada.
 
       Logo de cara ação em uma mosca que acabaria fazendo grande sucesso com as trutas gaúchas.

 

       O Carlos que não deixa passar nada em branco logo a batizou de “TFA Ausentes” em homenagem a esta terra tão linda, a mosca é uma “wooly worm spanflex legs diamond braid body glass bead”...ufa! E a cor no tom chartreuse!

 
 
 

       Como uma truta pode gostar de algo nesta cor? Não sei, mas foi ótima até que em um pincho mal feito, se enroscou no outro lado do rio em um grande arbusto que caia sobre a água.
 
       Com uma mata impenetrável e com um poção bem na frente, foi impossível chegar próximo para poder salvar minha mosquinha “matadeira”, ou seja, fui obrigado a arrebentar o leader e lamentar não ter feito outras, mas como sempre, quem tem uma não tem nenhuma!

 

       Fiquei a pensar ... – Ah, se eu tivesse feito outras!!!!!!
 
       Após muitas ações e tomando chuva voltamos para o almoço pra variar com uma mesa estupenda e farta, feita pela Nilda e sua mãe dona Helena.

 
 

       O restante do dia foi mais para pesquisar o rio, procurando possíveis ponto de pesca, a noite cai e voltamos satisfeitos com o rio e suas possibilidades. Após mais uma batalha na mesa, o filósofo Carlos diz, “Não dá pra ficar aqui mais que 3 dias”, isto é uma verdade, aquela casa é um Spa de engorda, no bom sentido é claro!!!

 
 

       Segundo dia de pesca, com as dicas do Chico resolvemos descer até o cachoeirão dos Rodrigues, fomos de carro e ao chegar nos deparamos com um local cheio de pequenas corredeiras, poções e cascatas, ou seja, local típico de trutas e que viria a nos confirmar o melhor local dos três dias que lá estivemos em Ausentes.

 

       Antes do rio chegar no famoso cachoeirão ele fica bem mais largo e cheios de pequenos poços, logo em seguida chega nosso amigo Irineu com seu lindo 4x4 que logo passou a ser o carro oficial nos dias de chuva constante do local.

 
 
 

       Com as dicas precisas de nosso “guia” com relação aos bons pontos, imediatamente em um único poção eu e o Carlos pegamos umas 15 trutas, não muito grandes, mas com uma força muito boa para as varas de número 4 e 5 que estávamos usando.
 
       Pescamos toda a manhã neste local, após mais uma prova de coragem ter que enfrentar o almoço nosso “guia” resolveu nos levar um pouco acima da pousada, um tramo do rio que muda totalmente o visual em relação a parte do cachoeirão.

 

       Uma grande reta e profundidades um pouco maiores, aqui fazem valer o uso dos wading Staff.
 
       Neste ponto do rio o nosso anfitrião foi o único a capturar peixes, enquanto eu e o Carlos saímos na saudade.
 
       Mas tudo bem, a vingança viria de outra maneira, acabaríamos com o estoque de Malbec Chilenos e Argentinos.

 
 
 

       Terceiro e último dia, infelizmente este é um dia que parece chegar muito rapidamente quando se está num lugar tão bonito, aconchegante e com pessoas tão generosas.
 
       Para variar mais chuva na cabeça, então o negócio era pescar e foi isto que fizemos o dia inteiro, com muita ação nas Woolly Buggers, Bitch Creek e outras moscas, neste dia a pescaria foi até o escurecer, literalmente.

 
 
 

A Volta

 

       Nosso retorno foi feito pôr outro caminho, até para termos noção do que seria o trajeto mais interessante em distância e qualidade das estradas.
 
       Partimos ainda na madrugada de sábado para domingo e ainda com uma pequena chuva, o barro para a nossa viatura não foi problema apesar de algumas deslizadas.
 
       Seguimos para a cidade de São Joaquim em Santa Catarina e depois para Lages e daí até Curitiba e logo depois São Paulo.
 
       Este caminho é mais curto em 100 km, mas a Br 116 estrada que vai de Lages até Curitiba tem muito tráfego de caminhão e com alguns locais com muitos buracos.
 
       Acreditamos que o melhor caminho para quem parte de São Paulo e outros estados é seguir até Curitiba no Paraná e descer pelo litoral em direção a Florianópolis já pela BR 101, mesmo porque, é pista dupla até esta cidade; de Florianópolis até Araranguá a pista é simples, mas sem nenhum problema.

 

Na Contra-Mão da Realidade

 

       Enquanto as fazendas da região tentam agregar ao seu modo de vida o turismo ecológico e a pesca com mosca em suas economias, pôr incrível que pareça tem órgão público (Fepan – RS) contra a idéia da soltura das trutas na região, isto pôr considerar a soltura de trutas um ato ilegal e ponto final.
 
       Vale a pena vermos o exemplo de outros países que adotaram a truta em suas águas. Para citarmos apenas alguns países de sucesso, temos a nossa vizinha Argentina, Chile, Estados Unidos, Nova Zelândia, Japão e vários países da Europa, países que colocaram trutas pôr motivos diversos, mas que hoje tem estas trutas como um importante fator de divisa econômica aos seus países, isto porque? Isto é fácil responder, pescaria esportiva gera lucros em vários níveis, a começar pela mão de obra local, guias, hotéis e todos seus empregados, restaurantes, lojas de artesanatos, licença de pesca, impostos em vários níveis, tudo isto gerado pela presença do pescador, e isto é possível porque este pescador consome e gasta no local, deixando dividendos para o dono da pousada que irá gerar vários empregos diretos e indiretos.
 
       Apesar de todos nós pescadores sabermos disto, para a FEPAN,isto não tem importância, o que importa é que é ilegal e não pode existir; simplesmente agem como se isto não fosse uma boa solução à população local para elevar seus rendimentos, caso típico disto é a fazenda Potreirinho, eles conseguem hoje ter uma vida mais digna e saudável graças aos pescadores e aos aventureiros que pôr lá aparecem.
 
       Até mesmo no estado de Santa Catarina a nível oficial é apoiado na soltura de trutas feitas com peixamentos de tanques do Ibama!!! Sim amigos, Ibama, enquanto um órgão federal como o Ibama solta trutas porque sentiram a importância destes peixamentos para a economia local, a Fepan prefere ir na contramão dos fatos e continua contrária ao que poderia ser uma grande transformação para a economia local.

 

Equipamento Utilizado

 
 

Varas: SAGE SP # 4 – 8’6” pés XP # 5 – 9’0” pés LE # 5 – 9’0” pés
 
Linhas: WF Flutuantes
 
Leader: entre 8 e 9 pés com tippets de 4 ou 5 X
 
Moscas: TFA Ausentes – Woolly Bugger – Bitch Creeek – Pheasant Tail entre outras
 
Wader e Jaquetas de chuva: Breathable
 
Underware : Fleece
 
Devido às chuvas intermitentes usamos bolsas estanques para guardar nosso material fotográfico da marca Acquaride.
 
Pousada Fazenda Potreirinhos: 54 – 9977 3482 Chico ou Nilda.

 
 

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