Texto: Ricardo “Tita” Kroef
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A idéia de ir a Tierra del Fuego em busca das Sea Run Brown, ou trutas marrons que migram ao mar, ia e vinha em minha cabeça. Sempre interessava a idéia de testar as habilidades na pesca de trutas que chegam aos 15, 20 kg, fortes e velozes como peixes de mar, verdadeiros torpedos, porém as dificuldades relatadas em relação ao vento do fim do mundo, além do preço dos pacotes, muitas vezes me desanimavam. |
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Em janeiro deste ano, recebi um convite dos representantes da Orvis em Mendoza, na Argentina, que consistia em uma semana de pesca na famosa estância La Aurélia, uma fazenda de 16000 hectares próxima à Rio Grande, no coração da Terra do Fogo.
A estância possui 10 km de tramo exclusivo do Rio Grande, além de 30 Km do seu principal afluente, o tortuoso Rio Menendez. O pacote era subsidiado e muito atraente, já que iríamos filmar 2 programas para uma produtora de fly fishing, a Águas Claras, que é responsável pelos filmes da Orvis Mendoza.
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Parti de Porto Alegre dia 21 de fevereiro e, após a tradicional noite Porteña, cheguei a Ushuaia no dia 22, depois de quase 4 horas de vôo desde a capital federal (são quase 4 mil km rumo ao fim do mundo...).
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Após uma breve explanação da estrutura do Lodge, me serviram uma janta inesquecível, regada com excelente vinho Malbec que faz parte da adega do Lodge.
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A Pesca
No dia seguinte acordamos ás 7 horas, ”desayuno”, e rumamos para o Rio Grande, num trajeto de 20 a 30 minutos dentro da estância. Outro ponto alto do Lodge: são 3 Toyotas Hilux novíssimas, 4X4, uma para cada guia e dois pescadores.
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O Rio é diferente dos maravilhosos rios da Patagônia norte, não tem aquela transparência e a cor esmeralda ou azulada, pode-se dizer que é um rio com a cor da água semelhante a cor da região de Ausentes, no Rio Grande do Sul.
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O comportamento destas trutas é diferente de qualquer outra que já pesquei, em outras partes do mundo. Tudo o que aprendemos sobre o comportamento de trutas não se aplica a estas, porque as Sea Run Brown simplesmente não comem quando vem do mar em busca da desova no rio. Então, tudo que sabemos em relação a alimentação, feeding lines, entomologia, etc., não se aplica a estes torpedos. Estas trutas atacam as moscas por irritação, assim como os primos salmões quando sobem os rios para desovar. Por isso, é fundamental seguir as orientações do guia de pesca, acreditar nestas informações, e deixar de lado o que aprendemos em muitos anos e, no meu caso, depois de mais de vinte idas a Patagônia nos últimos 14 anos. |
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No meio do vendaval matutino, já podendo pescar com uma vara 9, tive minha primeira ação e engatei uma Sea Run que brigava como um dourado, até que saltou e o guia exclamou: “Es chica!”
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Lá se pesca das 8 até as 13 e depois das 6 até as 11 da noite/dia, já que a luz solar vai quase até a meia noite.
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À tarde, as previsões do guia Diego se cumpriram e a ventania cessou, ficando extrememente agradável para pescar, enquanto se observa as inúmeras manadas de Guanacos e os Condores, abundantes na região. |
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Mais 3 Sea Run de porte pequeno (2 a 3 kg), até que o amigo Alejandro engatou algo grande, via-se pela música do “reel” cantando e a linha indo embora, testando a potência do freio e a resistência do backing.
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No dia seguinte o tempo estava excelente, pesquei mais algumas trutas boas entre Sea Run e residentes e resolvi tentar iniciar a arte de pescar com varas de 2 mãos, as Spey Rods. É interessante, as distâncias de arremesso são enormes e é muito fácil de pescar. Com esta técnica, fizemos nosso primeiro dublê de “plateadas”, coisa pouco comum segundo os guias. |
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No meio da manhã derivava uma ninfa pesada e senti um calafrio, com uma batida de um bicho grande. A truta correu rio abaixo, dando uma surra na minha vara 9 e arrancando linha tão depressa que resolvi correr pela margem do rio. Num dado momento a corrida parou e o guia dizia que a linha estava trancada em alguma pedra. Eu dizia que não, que sentia as cabeçadas do bicho, a vara parecia rebentar até que a truta soltou-se. Momentos de desespero, de sensação de falha, aquele silêncio sepulcral, meu e do guia, enquanto o Alejandro respeitava o silêncio, até que me dei conta de onde eu estava, num paraíso, cercado de pessoas de bem e fazendo o que mais gosto na vida!!! Que bobagem, perder o humor por causa de ter levado uma surra !!! Logo estávamos rindo da maneira como joguei a vara no chão de raiva na hora da fuga do monstro. Quase quebro a velha e boa GLX, que nada tinha de culpa na minha incompetência.
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Iniciei a pesca num “run” e senti um violento golpe, seguido de 3 saltos espetaculares de uma truta grande. O guia correu em direção à Toyota e buscou o puçá de trutas grandes, bom sinal, pensei. A vara 6 dava tudo que tinha, o backing já estava fora há tempos e a trutona lutava sem parar. Que força, que bicho espetacular!
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Mais 2 dias de pesca e alegrias, uma outra Sea Run de 9 libras e muitas menores.
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Em resumo, a viagem foi excelente. O grupo não poderia ter sido melhor; a camaradagem, as risadas, a troca de experiências, a filmagem. Dentre os companheiros, destaque à pescadora chilena Helga, mãe do Javier, uma mulher educada e gentil que encantou a todos.
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