SONHO REALIZADO

Texto:
Maurício Velho
Fotos:
Flávio Luiz e Maurício Velho


 
 

A VIAGEM
 
       Enfim a tão sonhada pescaria de dourados com mosca. O lugar não podia ser outro, a estância Rincón Del Diablo, nos esteros de ibera, uma espécie de pantanal na vizinha Argentina. Como companheiro para a empreitada ninguém melhor que o amigo e parceiro de diversas pescarias o Flávio Luiz.

 
 
 

       Para realizar a pescaria, primeiro conversei com pessoas que já jogaram suas moscas por aquelas águas, para saber mais sobre o lugar. Primeiro, falei com o Gregório que me ajudou contando como era o lugar, a pescaria e deu outras dicas. Depois conversei com o Rodrigo Sales que me ajudou muito contando como foram as pescarias por lá e por último o Tita que me deu dicas valiosas sobre o lugar.
 
       Passada essa etapa, entrei em contato com Luiz, dono da Estância, e agendei a pescaria para a segunda quinzena de janeiro. Tudo acertado só restava saber como ir.
 
       Os esteros ficam na província de Corrientes e a cidade mais perto da Estância é Mercedes. Esta por sua vez fica a 120km de Uruguaiana no RS, cidade que fica na fronteira com a Argentina. A principio havia as seguintes opções:
   01- Ir de avião até Uruguaiana e depois Luiz nos buscaria e levaria até a pousada.
   02- Ir de avião até Buenos Aires, fazer uma conexão até a cidade de Corrientes e de corrientes Luiz nos pegaria, de Corrientes a Mercedes + ou – 300km.
   03- Ir de avião até Porto Alegre pegar um ônibus até Uruguaiana e de lá ser resgatado pelo Luiz.
   04- E a última ir de carro de São Paulo à Mercedes.
 
       A primeira opção foi logo descartada, pois eu não sabia que vôos comerciais até Uruguaiana não existiam mais há pelo menos dois anos. Ir de avião até Buenos Aires fazer conexão até Corrientes e depois andar mais 300km seria antieconômico. Chegar em Porto Alegre e encarar mais no mínimo 6h de ônibus até Uruguaiana também não agradou. Então resolvi ir de carro, estava de férias, tinha tempo e não conhecia o Sul do Brasil, uma ótima oportunidade para conhecer.
 
       Decidido que iria de carro tive de tomar duas providências importantes: saber qual a melhor rota e o que precisaria para entrar de carro no país vizinho. Para isso foi só conversar com Jonas e Andriolli, já que os dois foram de carro até a Patagônia.

 
 

       Para ir à Argentina de carro é preciso o seguinte:
   1 – O carro deve estar em nome do condutor ou pelo menos de um dos ocupantes do veículo
   2 – Fazer o seguro verde. É um seguro contra terceiros para o Mercosul. Para tal é só falar com o seu corretor.
   3 – O carro não pode ter engate nem insulfilm.
   4 – O veículo tem que ter 2 (dois) triângulos de sinalização e um cambão (aquela barra de ferro para rebocar o carro caso ele quebre). Existem alguns cambões retráteis que são fáceis para transportar.
   5 – Documento original do carro.

 

ROTA
 
       A melhor rota para quem sai de São Paulo é pegar a Rodovia Castelo Branco, ir até Tauí, depois Itapetininga e, em seguida, Capão Bonito. Depois Itapeva e Itararé. Entrando no Estado do Paraná, siga por Sengés, Jaguariaiva, Piraí do Sul, Castro, Carambeí e Ponta Grossa. Depois, Palmeira, São Mateus do Sul, União da Vitória e General Carneiro. No Estado de Santa Catarina a estrada não cruza por nenhuma cidade. No Rio Grande do Sul, a primeira cidade será Erechim, seguida de Passo Fundo, Carazinho, Ijuí, São Luiz Gonzaga, São Borja, Itaqui e Uruguaiana.

 
 
 
 

       Ao atravessar a fronteira o motorista deverá pegar a rota 14 para Mercedes. Importante, para pegar a rota 14 não é preciso entra em Paso de los Libres.
 
       De São Paulo à Mercedes percorremos 1.800Km de estradas em ótimo estado de conservação e sem movimento de caminhões; a grande maioria pista simples, com alguns trechos duplicados, principalmente em SP e PR. Também alguns tramos são pedagiados, mas nada absurdo. No país vizinho a estrada é muito boa também.
 
       Fomos tranqüilos, sem pressa, a primeira “pernada” foi de São Paulo até Passo Fundo no RS onde pernoitamos. Depois, no dia seguinte fomos de Passo Fundo a Uruguaiana, aonde chegamos no final da tarde. Dava para tocar direto para Mercedes, que dista como disse antes 120Km da fronteira, mas resolvemos pernoitar ali. Pudemos assim, conhecer a cidade, descansar e seguir viagem no dia seguinte.

 
 

       Levantamos, tomamos café e seguimos viagem. Para atravessar a fronteira é preciso ter os itens acima descritos, além do RG civil ou passaporte. Demos azar, pois por ser um domingo de janeiro, nossos hermanos argentinos estavam indo ou voltando de suas férias no Brasil. O resultado não podia ser outro: a fronteira lotada, uma fila quilométrica e muita desinformação. Para passar pela imigração levamos quase duas horas, com direito a fila errada e jeitinho brasileiro.

 
 
 

       Passado o stress, seguimos aliviados para Mercedes onde Luiz já nos esperava para a última parte da viagem. Chegando lá deixamos o carro na casa do Luiz e seguimos de Land Rover até a pousada, que dista uns 50Km da cidade. Nesta estrada só se anda de veículo 4X4, pois a estrada de terra é dureza.

 
 
 

PESCARIA
 
       Chegamos para o almoço. Um excelente carneiro já estava a nossa espera. Combinamos com o guia Hernan, que depois da sesta, ritual que nos acompanhou por toda a pescaria, nos mostraria como montar o equipamento para a pesca do rei do rio, afinal, éramos totalmente inexperientes no assunto.
 
       Hernan, excelente guia, mosquero fanático pelo dourado além de muito atencioso e profissional, fala bem nossa língua e o mais importante, entende muito bem o português. Isto foi fundamental porque se dependêssemos do nosso portunhol ficaria difícil.

 

       Tudo arrumado, partimos para a pescaria. Pegamos a chata totalmente plataformada e impecável para a pesca com mosca. Equipada com um motor 4 tempos, que para quem esta acostumado com os de 2 tempos, é um silêncio total. Um fato curioso: lá não se usa motor elétrico. O guia fica em uma plataforma e habilmente manobra o barco com um varejão.

 
 
 

       Para atingir os esteros anda-se por um extenso canal, aberto pelo Luiz, que faz a ligação entre a pousada e os esteros propriamente dito.
 
       Navegamos um pouco e já começamos a pinchar. Usávamos linhas intermediate e como isca deceivers pretos. Estava curioso para saber como era a batida do peixe. O guia me disse “logo você saberá!”. Não demorou muito senti a batida forte, fisguei e em seguida fui presenteado pelo lindo salto do primeiro dourado capturado no fly. Era um dourado pequeno mas muito valente.

 
 
 

       Já no primeiro dia pudemos perceber que a pescaria não seria fácil. Encontramos uma situação incomum nos esteros. A água sempre cristalina estava turva e com muita suspensão, fato esse causado estiagem, que fez o nível das águas baixar muito rápido expondo assim a vegetação aquática abundante no local ao sol ocasionando a sua morte. Então pequenos fragmentos desta vegetação sujavam a água. Com o nível da água baixando muito rápido ficamos impossibilitados de acessar vários bons pontos de pesca, sem falar que muitos pontos ficaram fora d´água.

 

       Isso nos obrigou a concentrar nossa pescaria no rio corrientes. Este por sua vez nasce nos esteros. No rio a água estava um pouco mais limpa. Seguimos esta tática. Saíamos cedo da pousada e no caminho do rio, íamos batendo pontos promissores, como entroncamentos de canais ou lugares de água mais rápida.

 
 
 

       Quando chegávamos no rio, era só mudar a linha intermediate para uma sinking, e começar a pescar. È necessário fazer essa troca pois nos esteros os canais eram rasos e com muita vegetação no fundo. O rio, por outro lado, possui poços e lugares mais fundos, bem como correnteza maior que exige o uso de linhas que afundem mais.

 

       No rio, como a água estava baixando, arremessávamos nossas moscas nas saídas de pequenas lagoas. Nessas saídas havia concentração de peixinhos. Também casteávamos paralelo aos barrancos onde a água corria mais e nos poços mais fundos.

 
 
 

       Tanto no rio quanto nos esteros não há corredeiras, pedras, paus e outras estruturas. Há somente muita vegetação aquática o que não é nenhum problema pois se enroscar a mosca é só puxar que solta facinho. Também não tem perigo do peixe cortar a linha nelas, pelo menos não perdemos nenhum peixe assim.
 
       A pescaria no rio foi muito legal, pescamos bastante de barranco. parávamos o barco em algum ponto e saíamos caminhando procurando bons pontos para pinchar. É uma pescaria muito gostosa de se fazer, pegamos alguns peixes desse modo. É quase que digamos assim uma “pescaria no estilo” pescávamos andando pela barranca.

 
 
 

       Outro fato que ocorreu foi o grande número de piranhas fisgadas, que pela água baixa elas deixam o alagado e se concentram no rio. Elas detonavam nossas moscas.

 
 
 

       Mesmo com a situação desfavorável fisgamos vários dourados, não espécimes grandes como é comum por lá, o maior deve ter pesado uns 3kg, mas com certeza a diversão é garantida.

 

       Vale lembrar que lá não é difícil pegar peixes que podem ultrapassar 10kg. Infelizmente não demos sorte de pegar um grande. Mas dourados pequenos, jacundás (lá chamados Santo Antonio) e piranhas, faziam que tivéssemos ação o dia todo.

 
 
 

       O que chama a atenção mesmo com a água turva é a quantidade de peixes vistos. São inúmeros cardumes de curimbas, piaparas, arraias, lambaris sem falar nos dourados de diversos tamanhos que são vistos durante a navegação. Nunca vi um lugar com tanto peixe!
 
       Fato curioso ocorreu quando vi uma movimentação de peixes e pinchei em cima, vim recolhendo a mosca quando vi um risco vindo na direção dela e atacar, para minha surpresa acabei fisgando um belo curimba, não pelo corpo mas perto da boca o que prova que ele atacou a isca.
 
       O material usado passo a descrever item por item para ser mais didático.

 

EQUIPAMENTO
 
       Varas - Para o dourado, usamos varas ação rápida. Elas facilitam o arremesso de iscas volumosas, nos dá maior conforto para pescar com vento além de facilitar a briga com o peixe. Usei dois conjuntos, um #8 e outro #6. Como não estava entrando peixes grandes,me diverti muito com a #6.
 
       Linhas - Essencial uma intermediate para pescar nos esteros. Igualmente importante ter uma sinking ou sinking tip (tipo teeny) de boa razão de afundamento para pescar no rio ou em canais mais fundos. Usei no conjunto 8 uma TT Bermuda I e uma rio 300gr (tipo teeny). No #6 usei, uma quickshooter aqualux I e uma Sinking tip da rio de 150gr.(tipo teeny). O Flávio usou uma Shooting taper 10 no equipamento #8 que se mostrou imbatível nos lugares mais fundos.

 

       Leader - O mais simples possível, com mais ou menos 1,5m comprimento e duas secções, butt de 0,60, de um pouco mais da metade do comprimento do leader e o resto de linha 0,50. O uso do Shock tipet de aço é essencial. Usei de aço encapado de no máximo 30lb, com comprimento de mais ou menos 25 cm. O nó para atar o aço no leader é o albright. Já para o aço na mosca, usei o nó Lefty Kreh's Non-Slip Loop.

 
 
 

       Moscas - Basicamente em cores escuras, como preto e marrom, com bastante flashabou prateado ou dourado. No quesito brilho, o flashabou ganha do kristal flash, seu movimento na água é muito mais natural. As que moscas que deram melhor resultado, foram a original do Gregório e deceivers. Iscas claras só usamos na boca da noite, quando já não havia quase luz.
 
       O descrito acima foi o que usamos nesta situação específica de pesca, não sei o comportamento do peixe no resto do ano. Passei aqui o que aprendi nessa pescaria.

 

       Uma coisa é certa, eu e o grande amigo Flávio, adoramos a pescaria e o lugar e pretendemos voltar mais vezes, quem sabe no final do ano.
 
       Por final agradeço a todos que me ajudaram a realizar essa pescaria/matéria.

 

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