Spring Creek

Texto e Fotos:
Marco Valerio da Costa


 

       Ainda durante minha estadia na Argentina, em razão do Exame para Instrutores (vide matéria "O Encontro com o Maestro"), recebi um convite de um velho conhecido, para pescar em um rio próximo a Bariloche. Nosso destino era o Pichi Leufú.
       Conhecido por muitos pescadores argentinos como a "a escola natural da pesca com mosca", nasce nas bordas dos Andes, ao sul de Bariloche, nas proximidades do Cerro Carreras (2350 m) e corre sinuosamente para o norte (é um dos poucos rios patagônicos que corre do Sul ao Norte) até desembocar sobre a costa Sul da represa de Piedra del Aguila, nas proximidades de Paso Flores, onde antes corria um outro rio Patagônico, que atualmente está represado neste trecho, o Limay. Seu nome, em dialeto Mapuchi, diz tudo: Pichi: pequeno e Leufú: rio.

 
 

       Tem por característica, três partes bem diferenciadas, as quais poderíamos denominar de "parte alta, média e baixa", conforme o rio vai avançando por seu curso.
       Na parte "alta" que vai desde sua nascente até mais ou menos as instalações um instituto local de proteção ambiental, o rio parece um desses "spring creeks": sinuoso em seu curso, águas rasas, muito pasto nas margens e muitas trutas, porém de pequeno porte.

 
 

       Na sua parte "média", caracteriza-se como um típico rio de mesa, com bordas quase sempre acessíveis. Apresenta uma sucessão de suaves corredeiras e grandes poços de pouca profundidade, com pequenas barrancas em suas margens.

 
 

       Podemos dizer que tem início alguns quilômetros antes de se chegar numa localidade chamada de Pilcaniyeu, onde se cruza o rio através de uma ponte de concreto e onde há também diversos caminhos vicinais que levam a sua margem. Desta ponte de concreto, rio acima, pode-se avistar uma outra ponte (ferroviária) e rio abaixo (uns 12 Km, ou mais) há outra ponte de concreto, nas proximidades da Cooperativa Peumayén. Posso dizer, com bastante segurança, para efeito de referência, que esta parte do rio que estou me referindo, é a parte média.

 

       A parte "baixa", por sua beleza singular e por ser a menos acessível e menos visitada, é considerada a melhor: Altos paredões de pedra de cor avermelhada, com recortes de erosão feitos por anos de chuva e vento, a sucessão de correderas-poções e por estar o rio um pouco mais encaixotado, vão formando distintos acidentes geográficos.

 
 

       Em grande parte de seu trajeto, o Pichi Leufú possui um fundo de pedras polidas e soltas alternado-se com partes de fundo limoso com algas filamentosas e outros tipos de vegetação aquática.

 
 

     Constitui-se, assim, num sistema suficientemente eutrófico, para que exista uma boa variedade e quantidade de insetos aquáticos, os quais constituem a dieta principal das trutas. Em alguns pontos, este leito escuro, geralmente de limo e barro, lhe dá uma aparência pouco clara da água. Não se enganem, é somente um fenômeno ótico; pois a água é muito transparente; mesmo no princípio da temporada de pesca, especialmente depois de um inverno de muita neve e chuva. Feita a apresentação do rio, vamos a pescaria.

 

       Próximo a ponte de concreto (que me referi acima), meus parceiros pararam o carro e me informaram para começar a pescar dali pra baixo. Era hora de preparar a tralha, vestir o wader, escolher a mosca e acertar os arremessos. Eles estariam pescando cerca de dois quilômetros abaixo. Pescar sozinho num lugar como este era novidade para mim. Normalmente pescamos em duplas, com um pouco de distância entre um e outro pescador. Mas sempre acompanhados.

       O rio apresentava uma água absolutamente clara e transparente, com locais mais profundos e com grandes remansos, alternados por locais rasos e rápidos. Com um dia ensolarado ficava impossível de enxergar algum peixe sem óculos polarizados.

 

       O contraste com a luz do sol incomoda até aos mais acostumados. Nesse rio a pesca se dá geralmente entre a água rápida e rasa e os poços mais profundos e calmos. Localizar os peixes não é tarefa fácil, pois normalmente a trutas abrigam-se na saída ou entrada deste tipo de água.

 
 

       Seguindo a minha intuição e leitura das águas, fiz o primeiro arremesso naquele paraíso. O fundo do rio era repleto de pedras soltas e polidas. O local era justamente na saída da água rápida para o grande poço. O tiro saiu curto e logo percebi que precisaria de um pouco mais de linha e de um arremesso um pouco mais acima. Foram diversos arremessos, uns mais curtos outros mais longos, sem nenhuma ação ou sinal de peixe.

       Um detalhe, então, me chamou a atenção quando estava trocando uma isca: um vulto na junção da água mais clara onde o sol batia e a parte mais escura, abrigada pelas sobras de algumas árvores, fazia uns movimentos característicos de um peixe caçando.

 

       Arremessei pouca coisa acima e esperei a mosca ir descendo até aquele ponto. Quando a mosca estava passando pelo lugar onde o peixe se alimentava, dei um pequeno toque na linha para fazer com que a mosca tivesse algum movimento e talvez despertar o interesse daquele peixe pela minha isca. Nesse exato instante o peixe saiu daquela posição e desceu uns 3 ou 4 metros abaixo de onde estava posicionado inicialmente, o que me obrigou a soltar um pouco mais de linha e tentar capturá-lo mais abaixo.

 
 
 

     No momento em que comecei a soltar a linha o peixe atacou. O meu movimento havia sido, sem dúvida, o gatilho para o interesse do peixe. Ainda não sabia se era uma truta arco íris ou marrom, pois o peixe procurou se deslocar para o poço que estava um pouco mais abaixo, sempre tomando linha. Mantive a linha esticada e seguindo a minha intuição fui em direção à margem, de onde eu poderia administrar melhor a linha e acompanhar o movimento daquela bela truta. Um único salto: Marrom !!!. Alguns minutos brigando com aquela truta que insistia em se manter no poço e a minha insistência em trazê-la para a margem. Vencemos os dois, pois trouxe o peixe e em seguida soltei para que pudesse retornar para aquele lindo lugar.

 

       Depois desta briga, resolvi descer um pouco mais, encontrei um poço, no meio do rio, próximo a uma curva. Ali procurei me posicionar de maneira que os arremessos atingissem a espuma formada pelo rebojo da água. Com certeza, encontraria ali outras trutas. Comecei a observar o que acontecia ao meu redor, procurei ver que tipo de inseto havia no local para poder escolher algo semelhante em minha caixa. A escolha certa da mosca pode fazer a diferença na hora da pescaria. Um líder mais comprido (12 pés) faz com que as moscas secas derivem de forma mais natural sobre a superfície da água. Alguns arremessos se seguiram. E, finalmente, uma primeira truta arco-íris.

 
 
 

     Cada truta capturada é um momento mágico, é motivo de alegria e realização. Estar pescando sozinho, ouvindo apenas o barulho das águas, dos pássaros, do vento, fazem da pescaria com mosca algo de místico. Mais alguns arremessos e uma outra truta, agora uma marrom. O salto e a corrida desse peixe geram sensações e sentimentos que só aquele que já estivera em contato com uma truta marrom pode descrever. Meu dia estava feito, minha pescaria realizada. Outros peixes foram pescados (acho que 11 ou 12) e era hora de retornar.

 
 

       Obs: Parte do texto acima foi publicada na revista Top Pesca Magazine número 8.

 
Informações Gerais:
SECRETARIA DE TURISMO y MEDIO AMBIENTE
DIRECCION DE TURISMO
Em Bariloche, localizado no Centro Cívico.
 
Licenças de pesca:
São obrigatórias e podem ser retiradas tanto para diária como para toda a temporada (novembro a abril).
 
Equipamentos Utilizados:
Varas: Peacemaker #4 - Fleming
Carretilhas: Plus - 4
Linhas: TT (floating); WF (floating)
Líder: 9' a 12' - Tippet: 1,5' para ninfas ou 3' para moscas secas
 
Moscas:
Minha sugestão é que o pescador tenha uma grande variedade de iscas, porém não é necessária uma grande quantidade. A variação de tamanho é importante: dê preferência para este aspecto da isca.
 
Wader:
Os waders de goretex ocupam pouco espaço na sacola e tem a vantagem de permitir a eliminação da umidade corporal, entretanto, são mais caros, podem furar com mais facilidade e abrigam menos que os waders de neoprene.
- O uso de um bom óculos polarizado faz a diferença na hora da localização dos peixes.
 
Informações adicionais, dicas, críticas ou sugestões, podem ser enviadas ao e-mail do autor: marcovcosta@ig.com.br