Pescando Sozinho na Patagônia
29 de fevereiro a 8 de março de 2004

Texto: Mário S. Campos
E-mail do autor: mscampos@terra.com.br
Fotos:
Mário S. Campos, Alejandro Klap e Andrés Hermosilla

 

Pescar sozinho na patagônia e ainda pela primeira vez é algo que necessita de um plano muito bem elaborado, para que se possa desfrutar de tudo que esse lindíssimo lugar tem a oferecer.

Sair de São Paulo, e ir ao “Fin Del Mundo” pode se transformar em uma aventura muito interessante e de um aprendizado único.

Hoje em dia a internet facilita muito a troca de informações com hotéis, guias de pesca, flyshops, etc.

A idéia era a seguinte; sair do Brasil, dormir um dia em Buenos Aires e partir diretamente ao Aeroporto de Chapelco, muito próximo à Junín de Los Andes, destino final, podendo assim pescar 7 dias completos.

Abaixo seguem tópicos que considero importantes para obter sucesso na Patagônia.

Custos:

Os custos de uma viagem sozinho são bem mais elevados do que viajar com um companheiro de pesca, uma vez que guias e hotéis são pagos por apenas um pescador.

Recomendações:

Recomendo que os trâmites sejam negociados com um mês de antecedência, tempo suficiente para que pagamentos internacionais sejam feitos e ter calma para negociar preços, o que é possível em muitos casos.
Lembre-se:confirmar as reservas uma semana antes é fundamental.
Leve dólares e troque um pouco em Buenos Aires e o resto necessário na Hosteria Chimehuin.

Preocupação:

A minha maior preocupação no início da viagem era com o tubo de varas, como possuo varas de 2 partes (varas de 3 ou 4 partes podem ser embarcados normalmente) fica impossível levar no avião, sendo necessário despachar com a bagagem.

Dicas para despachar tubos grandes:

- Compre etiquetas de frágil e cole por todo o tubo (isso é fundamental), se possível em português e inglês.
- Tenha certeza de que seus dados de contato estão anotados em algum lugar visível.
- A companhia aérea Varig possui uma etiqueta que é de “Checked Baggage” ou Bagagem Checada, onde é colado o ticket de bagagem.
- Quando for pegar sua bagagem após o vôo, fique o mais próximo do início da esteira, para que seu tubo não dê muitas voltas e fique esbarrando em todas as curvas do percurso, podendo assim cair.
- Normalmente tubos maiores são mais visíveis e não passam desapercebidos pela equipe que recolhe a bagagem no avião (tubos finos são mais difíceis de serem vistos).

Ah, as carretilhas; levem-nas com você, em sua bagagem de mão. Mas não se esqueça, anzóis, flies, canivetes, cortadores de unha, ou outros objetos cortantes NÃO PODEM SER EMBARCADOS, e sim despachados.

Excesso de peso:

Cuidado com o excesso de peso, pode ser uma surpresa desagradável, se possível leve o wader e wading shoe em sua bagagem de mão.

Viagem:

A viagem de São Paulo a Buenos Aires (companhia aérea Varig) leva em média duas horas e meia (dependendo das condições climáticas). Chegando em Buenos Aires NÃO TROQUE DÓLARES DENTRO DO AEROPORTO (existe um banco logo ao lado do Ezeiza onde as taxas são MUITO MELHORES no aeroporto estavam pagando 2,63 contra 2,88/2,90 no banco). O peso argentino está muito próximo do real, então faça a conta do 1 por 1. Retire sua passagem na Aerolíneas Argentinas com destino a Chapelco (já previamente agendada pela internet), peça por um táxi oficial em qualquer dos quiosques que estão na saída do Aeroporto.
Saindo de Buenos Aires (Aeroporto nacional Aeroparque) até Chapelco a viagem leva em média duas horas, preste atenção quando o avião estiver pousando, é a primeira impressão de uma paisagem deslumbrante, e o prelúdio de excelentes dias de pesca.
Chegando no aeroporto vá de táxi (previamente agendado com a Hosteria Chimehuin) até a pousada.

Varig: http://www.varig.com.br
Aerolíneas Argentinas: http://www.aerolineas.com.ar

Crise Argentina e Buenos Aires:

Com a crise Argentina, Buenos Aires está com mais ladrões, pedintes, malabaristas de rua, é uma cidade exatamente como em São Paulo, então todo cuidado é pouco, ao sair do hotel leve só o necessário.
Assistir a um show de tango é uma boa opção para conhecer a cultura argentina e que custa em média 150 reais.

Fly Shop em Buenos Aires

A loja The Irresistible Fly Shop, de Gerardo Grau é uma excelente opção para quem quer gastar alguns dólares. O próprio Gerardo faz um atendimento impecável e de qualidade.
Os preços são justos e bem parecidos com os brasileiros.
Para os atadores vale a pena conferir (morsas, penas, pêlos, etc... de todos os jeitos, tipos e preços).
Aos sábados a loja fecha às 14:00hs, porém conversando com o Gerardo ele espera você chegar.

Visite o site: http://www.irresistibleflyshop.com.ar/

Temporada de pesca e licença:

A temporada de pesca começou no dia 01/11/2003 (os rios estão cheios, alguns impossibilitados de pescar de vadeo) e vai até 01/05/2004, (rios mais baixos). A licença de pesca (obrigatória) este ano custa 20 pesos para países que fazem fronteira com a Argentina, retire-a no centro de Junín de Los Andes na empresa de turismo.

 

Cidade de Junín de Los Andes:

É uma cidade de não mais de 15 mil habitantes, muito simples e sem muitos atrativos turísticos, duas boas opções de restaurantes são o Ruca Hueney (http://www.rucahueney.com.ar/) e o Centro Del Turismo (esse às sextas-feiras e sábados a partir das 23:00hs tem shows com música regional).
Para quem vai com a família a melhor opção hospedagem é em San Martin de Los Andes (http://sanmartindelosandes.com/), cidade turística preparada com mais de 30 hotéis, cassinos, shoppings e lojas por todas as partes (lembre-se que como uma cidade turística, os preços são altos e uma camiseta simples com uma truta desenhada pode sair por até 35 reais).
Em Junín de Los Andes a variedade de comida está ligada às famosas carnes argentinas de excelente qualidade, trutas e cervos.
Claramente alguns quilos serão ganhos, mesmo pescando todos os dias!

Visite o site de Junin de Los Andes: http://www.interpatagonia.com/junindelosandes/

 

 
Centro da cidade (4 quarteirões da Hosteria Chimehuin)

 

  Hosteria Chimehuin

 
Hospedagem na Hosteria Chimehuin:

É uma “pousada” de pescadores muito tradicional, com preços excelentes.
Sua construção é simples, sem pretensões, porém hospeda pescadores de todo o mundo.
A gerente Mirta e seu esposo Martin são pessoas muito prestativas. Uma boa opção para câmbio de dólares é falar eles, que utilizam uma taxa justa para conversão de valores (1 dólar=2,90 pesos).
O café da manhã (incluso na diária) é regado de pães e doces regionais, feitos na própria hosteria, com café/chá, leite e suco.
No espaço destinado às refeições é possível ver fotos de diversas épocas e de diversos pescadores com seus troféus, tome alguns minutos para examiná-las.

Visite o site: http://www.mercotour.com/hosteriachimehuin/

 

O guia:

Optei por pescar todos os dias com guia, por não conhecer o local e estar sozinho.
A empresa Pireco Turismo/Cordilleras Safari, empreendimento de Alejandro Klap (guia chefe) está totalmente estrutura para atender à todas as demandas de um pescador exigente. Com uma equipe treinada pelo próprio Alejandro, acampamentos com todo o equipamento, carros (Van) confortáveis, botes, e uma comida digna de bons restaurantes (preparada pela mãe do dono), faz da pesca algo muito mais prazeroso. É bom lembrar que em 7 dias de pesca o almoço não se repetiu.
Através de rádio a equipe pode ser contatada.
Tive o prazer de pescar com Alejandro Klap a maioria do tempo, e digo que o conhecimento adquirido em 20 anos de pesca com mosca faz muita diferença quando se pesca com ele. Outro grande pescador foi o Andrés, que com apenas 21 anos de idade passa uma segurança incrível aos clientes da empresa.
Toda a logística da empresa é dirigida por Mercedes (esposa de Alejandro), que é muito prestativa e possui respostas para todas as perguntas dos pescadores.

Visite o site: http://www.cordillerasafaris.com.ar/

 

Mercedes e Alejandro Klap

Rio Malleo Arriba
 


Rio Chimehuin Arriba e vulcão Lanin no fundo

Rio Chimehuin (a 2 quarteirões da Hosteria)

 


Os rios:  

Pescar nos rios Patagônicos é realmente o sonho da maioria dos pescadores de fly, a quantidade de trutas (arco-íris e marrom) existentes é enorme, variando de pequenas trutas (100g) até grandes (4kg ou mais) que com a força da correnteza parecem verdadeiros tratores e dão um trabalho danado para serem fotografadas.

IMPORTANTE: Na pesca de vadeo é necessário ter-se muito cuidado! Só um bom equilíbrio e botas de vadeo não bastam. As pedras roliças são super escorregadias, e quando possuem limo podem tornar-se traiçoeiras fazendo com que até um pescador experiente escorregue e caia (o máximo que pode acontecer é entrar água no seu wader e você ser arrastado um pouco pela correnteza, a qual logo te leva para as partes mais rasas, o problema é que se o dia estiver muito frio fica difícil continuar pescando). Um wadding staff e a ajuda do guia (que literalmente te segura pelos braços em trechos mais perigosos) são de grande valia.
Eu não levei wadding staff, então tive de contar com a atenção do Alejandro, que foi muito paciente muitas vezes ajudando na travessia de corredeiras muito fortes.


 

A pesca:

A pesca, o que posso dizer, é fantástica e cheia de trutas, a média de quantidade por dia/pescador é de 30 trutas.
Pesquei 7 dias em 6 rios diferentes, usando as técnicas de vadeo e flotada (um bote que desce aproximadamente 20km de extensão do rio por dia), existem flotadas de 1, 2 e 3 dias, faça sua escolha. Eu optei por flotadas diárias para conhecer a maior quantidade de rios.

Rios pescados:

1º. Dia Malleo Arriba – vadeo
2º. Dia Caleufu – vadeo
3º. Dia Quilquihue – vadeo
4º. Dia Collón Cura - flotada
5º. Dia Malleo Abajo – vadeo
6º. Dia Alumine – flotada
7º. Dia Chimehuin Arriba – flotada

Essa logística foi definida pelo guia Alejandro Klap, e me pareceu fantástica, na próxima essa é uma boa opção.

Cada rio apresenta sua peculiaridade e a paisagem a cada dia é diferente.

 

Rio Malleo Arriba

Rio Chimehuin
 

Tralha de Pesca

As varas:

Varas número #4 e #6 (em casos de dias com muito vento) são suficientes para se pescar em qualquer ponto dos rios.

As linhas:

Levei linhas WF-F, WF-ST, DT-S-II, TT-F, e essas satisfizeram todas as necessidades de pesca.
As linhas que afundam são muito interessantes em alguns trechos dos rios, portanto deixe duas varas preparadas.

As Iscas:

Bem, levei aproximadamente 15 tipos de iscas (entre secas, ninfas e streamers) em quantidades variadas, de 4 a 10. As Timberline, Pheasant Tail, Prince, Wolly Buggers, Pâncoras, Royal Wulff, foram as iscas que mais usei.
Os guias possuem uma noção muito boa de que iscas utilizar e aceite as sugestões dos mesmos, além disso eles cedem as iscas que são produtivas para determinado local.

Uma check list de todo equipamento que eu levei encontra-se para disponível para visualização, basta clicar aqui.

 

Nota Final

Para o pescador de flyfishing que ainda não teve oportuninade de ir à Patagônia vai aí um conselho:

Vá, sozinho ou com amigos, desfrute e aprenda mais (na prática) da filosofia da pesca com mosca, que se iniciou há milhares de anos, em um estilo singular, diferente de tudo.

Eu já havia pescado robalos, tucunarés, tilápias, lambarís e outros peixes no fly, mas NADA é comparado a se pescar trutas nos rios largos e frios, utilizando técnicas específicas como Upstream (contra a corrente), Downstream (a favor da corrente), vadeando por águas limpas e apresentando uma mosca seca suavemente para que "aquela truta" não desconfie que você está a caça-lá.

Não existe coisa melhor do que após o almoço, sentar-se nas pedras com uma garrafa de um bom vinho e apreciar o presente que Deus deu a nós, a beleza da natureza, o meio ambiente intocado...

... e a truta é só mais um presente fino dessa aventura!

Abraços e aproveitem,

Mario Silveira Campos

 

Mais Fotos:

 

águas cristalinas e potáveis

lago Lolog
 

Truta-Marron
 

Andrés

Caleufu


Fortes ventos e correntezas

 

Perca (black-bass da patagônia?)

Rio Malleo
 

Hosteria Chimehuin

Check list da viagem:

ACESSÓRIOS/MODELOS/MARCAS
Alicate de Bico
Backing Rio 20 Lb
Bolsa de vadeo White River
Braided Loop Connector (c/ 4)
Canivete Swiss Army All Purpose
Cantil de Whiskey White River
Cinzeiro portátil
Cola Super Bonder instantânea
Dry Fly Dressing Gink
Fly Line Dressing Scientific Anglers
Hanger (estirador de cabinho de aço)
Hemostat (Pinça Cirúrgica)
Landing Net (puça)
Lanterna MegLite Pequena
Leader Cônico Scientific Anglers 3X 6 Lb
Leader Cônico Scientific Anglers 4X 5 Lb
Leader Cônico Scientific Anglers 6X 3 Lb
Leader Cônico Scientific Anglers 8' 6X 3 Lb
Leader Cônico White River 4X 6 Lb
Leader Cônico RIO 5X 5lb
Leader Cônico RIO 6X 3.4lb
Nipper / Zinger Clipper (Alicatinho)
Óculos de Sol com Grau
Óculos Polarizado sem Grau
Pano para limpeza Geral
Par de luvas sem Dedo Spada
Prendedor de Pescoço
Pilhas para lanterna MegLite AA (pacote c/ 4)
Tippet Fastline 11 Lb
Tippet Fenwick 3X 8 Lb
Tippet Fenwick 5X 4.5 Lb
Tippet Gran Max Fluorcarbon 14.5 Lb
Tippet Gran Max Fluorcarbon 16.5 Lb
Tippet Maxima ???
Tippet Maxima 1X 8 Lb
Tippet Maxima 4X 4 Lb
Tippet Maxima 2X 6 Lb
Tippet Wire 11 Lb
Tippet Wire 13 Lb
UMPQUA Line Dressing Box e 2 paninhos

Wader e Wading Shoes

CARRETILHAS
Carretel Extra AS 56L #6 + DT-S IV #6 Scient. Ang.
Carretilha AS 56L #6 + WF-F #6 White River
Carretilha Crystal River #6 + Shooting Line Floating #6 Sci. Ang.
Carretilha Okuma AirFrame #6 + WF-ST #6 Scient. Ang.
Carretilha Playway #2 + WF-F #2 Rio
Carretilha Tioga #4 + WF-F #4 Rio

VARAS
Custom Made (Gregs) #2 2 pieces medium
Custom Made (Gregs) #4 3 pieces fast
G.Loomis GL3 #6 2 pieces medium-fast
Peacemaker #6 2 pieces fast

FLYBOX
Diversas iscas entre secas, ninfas e streamers

ROUPAS
Bermuda
Boné
Calça Polartec ThermoPro
Calça Social
Calças Jeans
Camisas Manga comprida
Camiseta Manga Comprida Hering
Camiseta Manga Comprida Polartec ThermoPro
Camisetas de manga curta
Casaco de frio nylon + pano
Chinelo
Cinto
Colete de Pesca
Cuecas
Malhas de Lã
Meias Grossas
Pijama
Sapato
Tênis

BÁSICOS + ELETRÔNICOS
Aparelho de Barbear
Camera fotográfica e filmes
Carteira + Documentos
Dólares
Escova de Cabelo
Escova de Dente
Filmadora Digital com fonte
Fitas para Filmadora
Gel
Passagem Aéreas
Passaporte
Pasta de Dente
Protetor Solar 8
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