Fly na Patagônia
 
 

Texto:
A.C.Cravo
Fotos:
Cravo, Maurício, Jorjão, Flávio e Bianchi


 

       Seguramente pescar na Patagônia Argentina ou Chilena é o sonho de pescadores de fly do mundo inteiro e certamente são muito felizes aqueles que como nós conseguiu realizá-lo. Neste caso felicidade dupla ou tripla, pois foi a minha terceira viagem, a segunda do Jorjão, do Bianchi e do Maurício e a primeira do Flávio, que confirmou o dito: Iniciante sempre pega mais ou o maior. Pena a ausência do Dudu e do Felício, companheiros em 2004 e que agora por motivos vários não puderam compartilhar a aventura conosco.

 

Preparativos
 
       Como das vezes anteriores a pescaria foi combinada com o guia Alejandro, que tratou de tudo para que quando chegássemos nossa preocupação fosse apenas com a pescaria. Face à alteração dos horários dos vôos, para nossa felicidade a viagem inicialmente agendada para seis ou sete dias de pescaria, permitiu que pescássemos durante oito.
 
       Tudo tratado bastava esperar a data marcada 30 de março para que o nosso grupo, daqui para a frente denominado Parrilla (fala-se Parrija, assado de carne e vísceras de boi) se encontrasse no aeroporto e seguisse para San Martin de Los Andes, base de nossa pescaria depois de uma noite em Buenos Aires.

  No Aeroporto.
 
Na Piscina.  

       Jorjão (Bife ancho), Maurício (Chorizo), Flávio (Chinchulin), Cravo (Riñon) e Bianchi (Iguaria), em Cumbica, aguardando a hora do embarque para Buenos Aires de onde no dia seguinte partiríamos para San Martin, onde nos aguardavam, como aconteceu, o Alejandro e a Mercedes sob um vento frio e um termômetro que marcava 9ºC, que pareciam cinco ou menos.
 
       Desembaraçada a bagagem seguimos para Hospedaria Cabañas Del Sur, nossa base nos próximos nove dias, curtindo até mesmo um banho de piscina, antes de sairmos para pagar a licença de pesca no valor de dez pesos, sem a qual não poderíamos nem pensar em pescar.

 
 

San Martin de Los Andes
 
       A cidade de San Martin de Los Andes fica no extremo Sudoeste da Província de Neuquén e com a vizinha Junin de Los Andes, recebe pescadores de fly do mundo inteiro que para lá se dirigem aos rios Chimehuín, Malleo, Caleufú e Alumine entre outros, em busca de suas famosas Trutas e da hospitalidade dos seus habitantes.
 
       Fundada em 4 de fevereiro de 1898 às margens do Lago Lacar, na Cordilheira dos Andes. É a sede do Parque Nacional Lanín e dista 45 quilômetros da fronteira com o Chile e 1575Km de Buenos Aires. Em 2001, contava com aproximadamente 23.500 habitantes coabitando com centenárias araucárias e Álamos sob a imponência do vulcão Lanín.

 
 

A pescaria

 
 
O Rio.  

       Para o primeiro dia da pescaria, como num “aquecimento”, foi escolhido o Rio Malleo (Mageo) em seu trecho médio, mais lento e de casteio e vadeio mais favoráveis aos pescadores. Os guias queriam saber como iam as nossas habilidades e condições físicas, embora não dissessem isso literalmente. Depois de alguns momentos fomos “aprovados”.

 
Cravo e Jorjão.   Cravo.
 

       Nesse ponto abro um parêntese para elogiar o trabalho deles que em diligentes cuidados assessoram ao pescador, trocando iscas, consertando líderes e muitas vezes durante o vadeo em correntezas mais fortes ajudando-o a atravessar se for o caso.

  Jorjão.
 
Maurício e Flávio.  

       Aos que acharem babaquice digo: Tentem atar uma mosca em anzol nº 20 num tippet 0.14mm ou unir este mesmo tippet numa seção 0.16mm, sob vento ou ação da correnteza.

 

       Este trecho do rio, mais próximo e acessível aos pescadores sofre, no entanto, uma maior pressão de pesca e por isso apresenta uma população de Trutas menores, embora algumas surpresas possam acontecer.

 
Almoço.   Bianchi.
 

       Já sabatinados e em função das possibilidades o segundo, terceiro e quarto dias da pescaria foram destinados à Flotada, tipo de pescaria em que descemos o rio em barcos infláveis adaptados para essa finalidade e quando possível e interessante para isso desembarcamos para pescar a montante ou a jusante das corredeiras. Particularmente acho a flotada o melhor tipo de pecaria. Pesca-se em vários trechos do rio de sobre o barco e como disse, quando interessante descemos e começamos a vadear.

 
 
 
André.   Jorjão.
Flávio.   Bianchi e Maurício.
 
Peacemaker e Plus - Fleming.  

       Esses três dias de pescaria no rio Aluminé médio, seriam entremeados com duas noites de acampamento sob a perspectiva de madrugadas beirando os 2º ou 3ºC.

 

       O Rio Aluminé é um dos maiores e mais famosos rios da região. Nasce nos lagos Moquehue e Aluminé e percorre seus 160 quilômetros no sentido Noroeste-Sudeste, recebendo as águas de rios como o Quillen e Malleo entre outros até passar a se denominar Collón Cura.

 
 

       Nele, ideal para flotadas, a pesca começa a melhorar depois da entrada do Quillén, melhorando cada vez mais a medida da sua descida, coisa que fizemos até as imediações da foz do Malleo.
 
       Na manhã do último dia e logo após o café da manhã, vadeando ao lado do acampamento, saquei esta bela Truta. Comecei bem!

 
  André, Cravo e Jorjão.
 

       Os acampamenteros, Nicolas e “Chivos” descem o rio na frente e preparam o local do almoço e o acampamento para a noite.

 
 
Bianchi.   Maurício.
Flávio.   Terminado.
 
 

       Terminada a flotada, cansados e sujos mais de alma lavada, retornamos a cidade e para o conforto de uma boa cama.
 
       No dia seguinte a aventura continuaria no Malleo, arriba e abajo.

 

       A pescaria no Malleo, como já disse mais favorável ao vadeio, principalmente quando assolados pelo vento, não apresentou surpresas. Na parte da manhã pescamos “arriba” e na parte da tarde “abajo”, nomeação determinada pela posição em relação à ponte da estrada. Não pegamos Trutas grandes, mas pescá-las nas varas nº 2 ou 4 (Jorjão usou uma zero), quando o vento permitia, dava sempre alegria, principalmente quando as pescávamos com moscas secas (Dry).

  Cravo e Jorjão.
 
Maurício e Flávio.   Bianchi.
 
 
 
 

       Quarta-feira 6 de abril estávamos no rio Chimehuín, considerado pela maioria dos pescadores que visitaram a região, como o mais famoso deles. Seja pelo tamanho das suas Trutas, seja pela sua beleza. Desemboca no Rio Collón Cura depois de percorrer 60 quilômetros, alguns deles bem perto da cidade de Junin de Los Andes, onde deu nome à uma das mais antigas e tradicionais hospedarias destinadas a pescadores de fly. Nela a tradição parece fluir de suas paredes adornadas de troféus e de seu piso inclinado, dando a quem a freqüenta a sensação de estar vivendo em outra época e acompanhado daqueles pescadores.

 

       A azáfama dos guias colocando os barcos na água trouxe-me à realidade afastando-me de pensamentos de como seria aquele dia.
 
       Com boas Trutas e sem vento; Com vento e sem boas Trutas, Com vento e com Trutas ou pior ainda, sem vento e sem Trutas.
 
       Situação em que nem desculpas teríamos para o caso de insucesso (boa essa não?).

 

       Logo, na saída o guia avistou uma das grandes e que embora eu não conseguisse pescar, animou a todos no início da pescaria e assim como verdadeiras Carrancas seguíamos à proa da embarcação intentando aqui e ali aquela que esperávamos, fosse o nosso “troféu”.

  Flávio.
 
Eu.  

       Numa das curvas, local já conhecido do nosso guia André (Sobriño), observamos vários rizes e conseguimos cinco boas Trutas. Eu, duas; Jorjão, duas e o guia Luiz, uma.

 
Jorjão.   Luiz.
 

       Continuamos descendo o rio até que quase na chegada fui premiado não com o troféu esperado, mas com uma bela Truta que embora não fosse das “grandes” me obrigou a sair do barco para facilitar o trabalho. Com uma pequena Ninfa em um tippet 0.14mm, não quis arriscar.
 
       Com ela encerrei a flotada no Chimehuín.

 
 
 
André Soltando.   Jantar.
 
Eu.  

       No dia seguinte acrescentaríamos um novo rio às nossas memórias, pertinho de San Martin está o Quiquihue, pequeno rio, afluente do Chimehuín.
 
       Ele nasce nasce no Lago Lolog, onde sua boca é constantemente assolada por fortes ventos e mesmo assim local de capturas de grandes Trutas que deixam o lago para se alimentar no rio. Quando paramos para as fotografias vimos dois argentinos que as intentavam sem sucesso, com varas nº seis e oito.

 
Maurício.  
 

       Embora tenhamos feito uma pescaria nada melhor do que conseguiríamos em São José dos Ausentes, nem reclamamos, pois neste dia pudemos realizar o sonho de 99% dos brasileiros que já ouviram falar nela. Como presente especial, talvez pela ausência das grandes Trutas, fomos brindados por uma belíssima manhã na montanha nevada.

 
 
 
 
 

       Pescamos pouco, pois em virtude do forte vento e do frio intenso voltamos para a cidade logo depois do almoço sob os protestos do Maurício que ponderava: Enquanto vocês faziam a sesta eu peguei seis aqui embaixo. Colocada a questão em votação, ele perdeu.

 
 
 

       O Ultimo dia de nossa pescaria estava destinado ao Caleufú, filho dos rios Meliquina com o Filo Hua Hum (se assim podemos falar) e um excelente rio para flotadas no início da temporada (Novembro ou Dezembro). Terminado o degelo esse tipo de pescaria fica prejudicado e pesca-se apenas de vadeo, como fizemos, lembrando-nos de como havia sido no ano passado, quando sentado numa pedra no meio do rio, o Jorjão, sem sair dela pescou algo como vinte Trutas.
 
       Este ano, talvez ainda pelo degelo da neve que esfriou muito mais a água, as Trutas estavam arredias e seletivas, só atacando determinadas iscas e variando-as de um local para outro.

 
 
 
 

       Na parte da manhã conseguimos algumas boas, na da tarde todos encheram a memória e o coração com dezenas das pequenas, encerrando a pescaria que se não foi a dos nossos sonhos, foi aquela pudemos realizar face às condições do momento. Mas na verdade, considerando a beleza do local e a presença dos amigos, foi uma pescaria que agradeço a Deus ter me permitido participar dela.
 
       Mais uma vez ele foi particularmente bom para comigo!

 

Todas Soltas!
 
Até 2006!

Cravo Abril 05