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Johanes F. Duarte
 

Mário - Jonas, diga o seu nome completo, sua idade, e dados pessoais. E de que nacionalidade vem o nome Johanes?
Johanes - Johanes Florentino Duarte, 44 anos, nascido em São Paulo Capital, casado, sem filhos, 3 cachorros (mini schnauzers), diz a minha mãe que o nome vem de antepassados Holandeses.


 


 
Mário - Há quanto tempo pesca de fly, quando e como começaram seus interesses pela pesca com mosca?
Johanes - Comecei a pescar com mosca em 1993, quando conheci a loja do Quico Guarnieri no Bairro de Santo Amaro na zona Sul de São Paulo, mas o primeiro desejo real surgiu após folhear uma revista Fly Fisherman em uma banca de jornal no aeroporto de Congonhas, a revista que ainda é uma das melhores do mundo naquela época mostrava quase que exclusivamente pesca de trutas e salmões, ao mesmo que olhava aquelas fotos maravilhosas já começava a imaginar se seria possível a pesca com esta modalidade por aqui no Brasil, logicamente que foi um banho de água fria ao verificar nas lojas da época que nada havia e que ninguém conhecia sobre fly fishing, com isto minha mais nova paixão teve que esfriar. Em 1992 quando mudei-me para perto da loja do Quico, resolvi visitar a loja e para minha surpresa ele tinha alguns "kits" e pronto a paixão despertou novamente, com a sua total ajuda pude na loja dele ter as informações que ele já conhecia e assim pude começar com este esporte maravilhoso.
 
Mário - E por montagem de varas?
Johanes - A montagem de varas começou meio que por acaso, nunca havia pensado em um dia montar varas de pesca. Mas este mundo da muitas voltas e um dia um amigo me convidou para visitar uma oficina de uma pessoa que já montava varas, fomos e passamos um dia muito legal, mas para minha surpresa passado alguns dias, este mesmo amigo que me havia convidado para este passeio me liga um pouco chateado dizendo que o dono da tal oficina tinha perguntado a ele porque eu tinha ido até a sua oficina, porque afinal de contas éramos concorrentes, bom já da para imaginar o quanto fiquei espantado com aquilo além de chateado, pois na época eu gerenciava uma loja em São Paulo (1ª fly shop do Brasil) e não montávamos varas, para resumir, isto ficou martelando a minha cabeça por um bom tempo, até que surgiu uma oportunidade de montagem quando consegui trazer alguns Blanks da América, eram os East Branch uma marca que não mais existe, lá de Nova York.
 
Mário - Sabemos que você é o único representante da Marca SAGE no Brasil, como isso aconteceu?
Johanes - Bom, a SAGE posso dizer que foi uma paixão de anos por ter conhecido algumas varas na loja do Quico Guarnieri, na realidade um amigo havia trazido uma vara para ele e mesmo para mim que era totalmente leigo já dava para notar a diferença de acabamento e ação em relação a outras que ele tinha na loja. Quando da época da loja Fishing Store que eu gerenciei, o proprietário Roberto chegou a importar algumas varas diretamente da SAGE mas infelizmente pouco tempo depois a loja encerrou suas atividades, isto foi em dezembro de 1997, logo em seguida comecei a trabalhar em casa (já morando em Vinhedo) e comecei a enviar emails a SAGE querendo comprar diretamente da fábrica, mas eles pareciam não querer mais trabalhar com vendas no Brasil, sempre que enviava um email eles respondiam para que eu entrasse em contato com o dealer em Buenos Aires, e a minha resposta era que eu na realidade queria também em ser um dealer, assim foi por pelo menos quase dois anos até que um belo dia acredito que o Sr. Marc Bale Gerente Geral da SAGE deva ter acordado de bom humor, me enviou um email perguntado o que eu na realidade queria, bom, expliquei sobre o fly no Brasil e o que eles poderiam esperar de mim, acho que a honestidade em mostrar números reais a eles foi decisivo, não tentei dizer que iria comprar milhões mas sim que os valores que eu estaria comprando seriam metas a serem alcançadas e assim tem sido até hoje, para mim esta foi a maior vitória que eu poderia alcançar em termos de marca estrangeira, após conseguir ser um distribuidor da SAGE conseguir marcas como Tibor, Abel, Umpqua, Bass Pro Shops, Renzetti, Royal Wulff Products entre outras, ficou muito mais fácil.
 
Mário - Como anda o mercado brasileiro para a pesca com mosca? Você vê algum crescimento?
Johanes - Da minha experiência de 1992 até hoje em 2004, vi um bom crescimento logo no começo onde haviam importadores como a Pesca Trade (Cortland), Interflag (Scientific Anglers) Pesca Post (Eagle Claw) e o Gregório (Talon). Nesta época também foi publicada a ótima matéria do carioca Paulo Cézar Domingues, ABC do Fly. Para ajudar neste boom" também aconteceu o lançamento do filme Nada é para Sempre com direção do Robert Redford e ganhador de um Oscar. Mas apesar de um rápido crescimento a pesca com mosca começou a ter problemas que persistem até hoje, dos antigos importadores só restou o Gregório, hoje temos alguns outros mas o crescimento apesar de continuar acontecendo hoje devido a problemas econômicos meio que diminuiu.
 
Mário - Quando um iniciante em flyfishing se aproxima, quais são as primeiras dicas que você dá?
Johanes - As dicas são sempre em saber o que a pessoa se interessa, tipo, ela quer pescar o quê, isto é o básico de tudo. A partir daí podemos aconselhar a escolher um tipo de equipamento aliado ao que ela pode gastar, para a escolha da vara sempre recomendo ao iniciantes as varas de ação média ou média-rápida e o uso de linhas flutuantes. Não recomendo um número em específico, mas antes vejo o que ela pretende pescar, embora o iniciante queira pescar de tudo e de preferência com a mesma vara.
 
Mário - Lá vai, uma pergunta polêmica... eu sei, por experiência própria, que você é um grande incentivador da pesca com mosca. O que você diz daquelas pessoas que insistem em manterem-se caladas a respeito de técnicas e artifícios?
Johanes - Eu sempre lembro de algo que aconteceu comigo logo no começo onde antes de comprar o primeiro equipamento , estava tentando entender o que eu deveria comprar, fui a um importador que havia na época e expliquei que eu queria comprar um equipamento para pescar nossos peixes, e completei querendo saber se eu conseguiria usar as ninfas que eu tanto via nas revistas importadas, a resposta foi curta e grossa, "esquece que isto você não vai usar aqui no Brasil"!!! Bom a pessoa que me falou isto era e é uma pessoa que freqüentava a Argentina e já pescava a um bom tempo de fly, mas ter a informação para esta pessoa era e ainda é algo para muitos como um segredo de estado, nunca entendi esta maneira de pensar. A única coisa que dá para dizer que é que são pessoas "pequenas" em achar que guardando este segredo ela está em um patamar acima da média, parece ridículo mas isto ainda existe e vai continuar a existir, é sempre o danado do EGO.
 
Mário - Quanto tempo você acha que é necessário para um iniciante começar a entender o "dialeto" da pesca com mosca?
Johanes - Isto pode variar muito de pessoa para pessoa, é como qualquer outra modalidade, seja aeromodelismo, pescar, navegar na internet etc, algumas pessoas se apaixonam tanto que rapidamente chegam em um nível de informação muito rapidamente, principalmente hoje com a internet. Há anos atrás quando a informação que existia era única e exclusivamente em revistas de fly importadas sempre era muito difícil e custoso. Eu vejo pôr meus clientes e amigos, alguns gostam mais ou menos, isto pode ser a diferença em se entender o "dialeto" do fly. Mas é bom que se diga uma coisa, "entender" sobre pesca com mosca é uma coisa, mas ter isto na prática onde pode se levar toda uma vida, é outra coisa. Ninguém sabe tudo, nem Lefty Kreh nem mel krieger, eles mesmo são os primeiros a dizer que a pesca com mosca é um aprendizado para toda uma vida. E isto é o que faz deste esporte algo fantástico, é saber que você estará sempre aprendendo algo novo, basta querer.
 
Mário - Cursos de arremesso são importantes? E de atado?
Johanes - Eu diria que ambos são importantes para algumas pessoas, fazer um curso com alguém com habilidade para tal, pode trazer ao iniciante um ganho rápido de qualidade tanto nos arremessos quanto nas moscas, só isto já dará ao iniciante a possibilidade de não ganhar vícios que depois são muito difíceis ou quase impossíveis de serem corrigidos. Pôr um outro lado já vi pessoas em cursos que o fazem única e exclusivamente para ter um pedaço de papel para mostrar aos amigos que fez um curso, neste caso é besteira da parte dele em fazer um curso, tanto em dinheiro gasto quanto no tempo da pessoa que se encarregou de ajudá-lo.
 
Mário - O que os iniciantes deveriam pensar logo no começo, quando quererem pescar de fly?
Johanes - Ao meu ver, saber qual será o seu principal alvo, será de tucunarés? de lambaris? de tilapias? de pesque pague? se possível tente arremessar com algumas varas diferentes para sentir os tipos de ação, isto porque onde uma vara mais lenta para lambaris seja a ideal o mesmo tipo de ação para um tucunarés usando moscas tipo 2/0 pode ser extremamente ruim. Quanto as linhas, hoje existem centenas de tipos diferentes, isto para falar das marcas mais conhecidas, para um iniciante a principio é a flutuante, porque é a linha que mais usamos em termos gerais, porém são muitos os tipos de WF no mercado, eu diria que a melhor escolha para varas de ação média ou média-rápida sejam as linhas do tipo WF freshwater de preferência de uma boa marca, muito pescador prefere dar atenção mais as varas, mas o conjunto vara/linha é fundamental para um bom equilíbrio. Não recomendo nenhum tipo de vara onde existem mistura de grafite com fibra de vidro, geralmente são conjuntos muito simples e baratos mas que deverá dar ao iniciante mais dor de cabeça do que prazer.


 

Mário - Diga uma frase sobre o que você acha sobre o flyfishing!
Johanes - O que eu acho é simples e complicado para responder. Para mim eu diria, que é Trabalho, Esporte e Paixão tudo integrado ao mesmo tempo. Mesmo porque eu vivo apenas do meu trabalho com fly.
 
Mário - Você pesca única e exclusivamente de fly?
Johanes - Sim, logo quando comecei a pescar com fly, vi onde eu estava me metendo, e vi que eu iria entrar de cabeça e teria que optar onde iria torrar meu dinheiro, hoje são cerca de 11 anos pescando somente com mosca.


 

Mário - Sei que você é um grande amante de fotos, o fly tem alguma influência nisso?
Johanes - Indiretamente até tem, todas estas revistas de fly importadas sempre tem grandes fotos e eu sempre gostei de fotos, mas nunca pensei em investir nisto, mas com o passar do tempo, foram surgindo oportunidades em revistas, depois em sites como o do nosso amigo 100, na Pesca Esportiva, e por último na revista Pesca & Cia onde colaboro com algumas matérias de fly, e outras que já não existem mais. Isto fez com que eu me interessasse mais sobre o assunto que é tão vasto e encantador. Hoje faço basicamente cromos e no momento estou comprando a minha primeira digital. E com tudo isto mais um campo começou a se abrir para mim, graças às fotos que comecei a fazer e aos amigos que me deram oportunidade para publicá-las.
 
Mário - No Brasil o fly tem "jeito"?
Johanes - Esta é uma pergunta que sempre acontece nas rodas de amigos, eu gostaria de ter uma bola de cristal para saber a resposta correta, mas infelizmente não tenho, acho que qualquer perspectiva pode ser um chute, no meu caso vejo que sempre tem aparecido novos clientes, sinal que o esporte continua a crescer, mas fica difícil de ver o fly crescendo de forma verdadeira sem grande importadores com boas marcas e bom preços, e o problema não e destes importadores, mas sim a eterna economia de terceiro mundo como a nossa, isto me faz lembrar quando no começo da década de 70 o governo dizia que este era o país o futuro, mas passado 30 anos vejo que nada mudou, fica muito difícil para qualquer um seja grande ou pequeno fazer investimento sem saber o que vai acontecer amanhã, isto já fez muita empresa "quebrar" e com certeza fará muitas outras. Para ser sincero eu vejo que o fly continuando a crescer, mas de forma pequena, diria até que continuamos a engatinhar, embora também ache que isto é tudo parte de um grande problema que começa no lado econômico, na preservação de nossos recursos onde cada vez as pescarias são em lugares mais longe e o uso de fiscalização séria, coisa que infelizmente sabemos que isto é uma utopia, eu tenho 44 anos e nunca em toda a minha vida fui parado pôr um fiscal ou policial para perguntar se eu tinha licença ou não, já no nosso vizinho a Argentina a fiscalização é séria e funciona sempre, não diria 100% mas funciona.
 

Entrevista: Mário Campos
Fotos: Carlos Augusto Andriolli