FUGIU; HAJA PACIÊNCIA!

Texto e Fotos:
A.C.Cravo

 

       Peixe espectral, habitante tanto de águas interiores como costeiras e até oceânicas, o Fugiu (pertencente às famílias Fugilus Maioris e Grandis Fugilus) tem a capacidade de se metamorfosear, se fazendo passar por membro de outras espécies. Houve época em que já preferiu se esconder, como se fosse um verdadeiro pintado, principalmente o tipo mais exuberante de Cachara, com suas listas vistosas.

       Com o espaço maior, conquistado pelos supermercados, abrindo suas enormes peixarias para vender exemplares ainda muito pequenos e sem cabeça (para não demonstrar a maneira "esportiva" como tinham sido capturados), não houve alternativa, senão tratar de camuflá-los sob a aparência de Bass ou de tucunarés, quando retirados de represas e rios do interior, e como grandes robalos quando provenientes de rios e canais do litoral. Até porque, também se tornou urgente escapar dos ecologistas que adoravam vê-los sobre uma grelha nas churrascarias.

       Em meio às conversas do início de semana, entre companheiros que narram as peripécias de suas pescarias, se ouve falar deles. São descritos com perfeição e determinado o seu peso com o máximo de exatidão.

       O método criterioso lhes permite até falar em gramas. "Era um flecha bicho! Joguei bem no cantinho da galhada e ele entrou que nem um torpedo!" A narração prossegue com euforia: "Puxei no elétrico, mas depois de uns dezessete saltos ele abriu o snap e foi embora". E a história é repetida à exaustão, ganhando um teor ainda mais emocional, a cada ouvinte conquistado. Acreditando e respeitando a técnica do narrador e ainda defendendo esta sua habilidade, sempre digo que ele teve a grande oportunidade de se defrontar com um Fugiu, que poderá ser descrito como quiser e de acordo com a inocência dos seus ouvintes. A narrativa também poderá ser incrementada com detalhes interessantes, sobre a espessura e capacidade da linha (sempre importada, é claro!), a qualidade da isca artificial usada e o tipo de molinete ou carretilha. A vara, por sua vez, deverá ser no máximo para 14 lb, nem pensar em isca natural. O Fugiu, quando investido na figura de robalo, detesta camarão e não se sabe de nenhum espécime que tenha sido pescado com esta isca. "Só uso artificial, amigão!" Tal como os Tucunarés, o Fugiu adora iscas de superfície, as quais ataca violentamente, sempre com grandes rebojos, fazendo-as saltar de um lado para outro, em trabalho muito interessante.

       Quando acaba fisgado, isso acontece perto de tranqueiras que dificultam ao máximo a captura, na mesma medida que facilitam as desculpas por sua fuga: "Deixou no pau o danado".

       Em compensação, uma vez fora da água, a grande atração para o Fugiu é a câmera fotográfica, não se contentando em ser fotografado com o pescador.

       Afinal, este contrariou a lógica que um dia justificou a escolha do nome, ao não permitir que fugisse. Então, ele salta para as mãos de outros pescadores e, com um raro brilho nos olhos, pede para ser fotografado mais vezes.

       Os grandes exemplares de Fugiu são verdadeiras estrelas, capazes de hipnotizar qualquer pescador mais desprevenido que esteja nas proximidades do local, depois que é retirado do barco. Se o peixe estiver vivo, o perigo é ainda maior, uma verdadeira atração fatal, cujo efeito se prolongará por toda a semana, ou durante meses, até que apareça um "Fugilus Scapous", o maior da espécie e que nunca foi encontrado com menos de vinte quilos.

       Apesar da envergadura, tende a ser facilmente apanhado com material leve da classe 35mm, preferivelmente das marcas Olimpus, Yashica ou Nikon, à beira do cais dos pesqueiros, depois que os barcos encostam. Basta aguardar impassível, que se ele estiver por perto, saltará incontinente, fazendo pose para a fotografia.