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Nelson Borges
 

Nelson Borges mais um grande mestre brasileiro nos fala de seus primeiros dias de pesca com mosca e sua grande paixão, os dourados no fly.


 

Jonas -Como foi a descoberta do Fly ?
Nelson Borges - A minha descoberta do fly foi um acidente de percurso onde eu tive em mãos uma revista Field Stream que sempre que tinha oportunidade comprava, certa vez veio uma matéria que explicava uma montagem de uma mosca e esta mosca era uma Royal Coachman, fiquei encantado com aquele processo e resolvi tentar reproduzir, com uma pinça hemostática e um pedaço de madeira num plano inclinado prendi o anzol para começar a montar , como eu não tinha anzóis específicos para mosca eu utilizava anzóis normais e os aquecia para endireita-los, como eu não tinha linha para atado eu tirava alguns fios das meias de minha esposa, apesar da dificuldade para atar ainda hoje tento utilizar fios de seda de meias femininas, ele tem uma acabamento muito bom.

  


 

Jonas - Lembra-se do primeiro equipamento? Que conjunto era?
Nelson Borges - O meu primeiro equipamento de fly foi comprado na loja Bayard em São Paulo era um equipamento de fibra de vidro da marca Abu Garcia, a carretilha parecia um triângulo mas era um bom equipamento e foi assim que comecei a fazer as primeiras tentativas.
 
Jonas - O atado de mosca hoje é a sua vida?
Nelson Borges - Como sou aposentado e pela minha índole seria muito difícil ficar parado e com toda a evolução que eu tive resolvi me tornar um profissional e atendendo a vários pedidos, acabei ficando conhecido no país através de algumas reportagens de revistas especializadas e á partir daí tenho atados mosca quase todos os dias e até mesmo os dia inteiro para atender a estes pedidos.
 
Jonas - Quanto tempo você ata profissionalmente?
Nelson Borges - Profissionalmente a cerca de 8 anos.
 
Jonas - Qual o estilo de mosca preferido que você gosta de fazer pôr prazer? Secas, ninfas, streamers, bugs...
Nelson Borges - As moscas que eu mais gosto de trabalhar são as que utilizam Deer Hair para montagem dos Bugs, mas também gosto muito dos Streamer para dourados que estamos sempre testando e de vez em quando pôr tentativa e erro atamos alguma coisa diferente para os dourados, acredito que meia dúzia de patterns para os dourados são suficientes.
 
Jonas - Porque seus bugs são tão apreciados em feiras e exposições pôr onde você passa?
Nelson Borges - Eu acredito que no começo da comercialização destes bugs era mais um processo de curiosidade porque a maioria dos pescadores não tinham acesso a isto, e acredito que eram devido aos modelos e com isto abriu um leque de vendas que para mim foi uma surpresa muito grande principalmente nas exposições que eu participei.
 
Jonas - Fale um pouco a respeito do seu gafanhoto que faz tanto sucesso com a piraputangas? É uma mosca criada pôr você?
Nelson Borges - Sobre este gafanhoto que você me pergunta ele foi a improvisação de uma mosca para salmão chamada Mac Salmon só que com tamanho e colocação de uma asa mais visível e consegui um resultado absurdo pescando piraputangas, as quais gosto muito de pescar e esta mosca funciona com qualquer tipo de água, seja limpa ou barrenta só depende do modo de recolher e seu trabalho na água, ela realmente funciona.
 
Jonas - Morando no Mato Grosso do Sul o dourado é o seu predador preferido?
Nelson Borges - Realmente o dourado é a minha presa favorita, eu pesquei 12 anos consecutivos no mesmo rio e no mesmo local e sempre sendo muito produtivo e através deste local acabei fazendo uma amizade internacional eu recebi e levei para esta corredeira Franceses, Ingleses, Alemães, Belgas, Americanos, Chilenos e Argentinos que sempre me procuravam porque a Segunda vez que eu fui a Junin de los Andes na Hosteria da dona Helena eu levei umas fotos de uns dourados e o pessoal ficou tão encantado com aquilo que no ano seguinte praticamente não trabalhei para atender ao pessoal que vinha de fora á qual eu havia conhecido em Junin de los Andes e sempre os levei sem nunca imaginar em me tornar um guia profissional apenas os levava e indicava os lugares, onde via gente até a chorar quando o via saltar, este peixe eu tenho o maior respeito pôr ele e se dependesse de mim este peixe jamais seria abatido, durante 12 anos eu devolvi todos os dourados que pegávamos e acho que nestes 12 anos dei a minha colaboração para este peixe, porque aqui no meu estado a matança não tem explicações. Você é testemunha juntamente comigo que quando estivemos na loja de Marcelo Moralles em Buenos Aires, quando nós ouvimos uma ótima noticia, pelo menos para eles, que o dourado seria um peixe que logo seria eliminado dos frigoríficos, não podendo mais ser abatido. Na região de Corrientes a Argentina arrecadou 2.800.000 milhões de dólares tudo isto girando em torno do dourado, este peixe fantástico.
 
Jonas - Alguma técnica especial para fisga-lo?
Nelson Borges - Em termos de técnica para dourados em resumo no seguinte, uso uma vara # 10 com shooting head # 11 e running line Amnesia porque neste local os arremessos tem que serem bem longos para você fazer uma boa apresentação, aqui nas minhas condições todos a quem eu levei tiveram resultados absurdos. Uma vez fisgado no primeiro salto eu entrego toda a linha eu não deixo formar alavanca, assim que ele cai na água faço pressão novamente, quando ele salta entrego a linha novamente e com este processo e não perco mais dourados e não escapam com facilidade como eu vejo as pessoas me dizerem.
 
Jonas - Qual o leader ideal que você indica para eles?
Nelson Borges - Eu uso um leader de 9' pés com tippet de 20 libras , um cabo de aço com uma camada de nylon de 20 centímetros na ponta e um nó em forma de loop para segurar o streamer totalmente solto.
 
Jonas - Nestes anos de atado você conheceu muitos estrangeiros, fez amizade com algum em especial?
Nelson Borges - Com estas minhas idas a Junin de los Andes acabei me tornando parte da família que sempre se reunia ali, acabei fazendo um grande número de amizades principalmente aqueles que vinham pescar comigo, até hoje me escrevem me mandam fotos não perdi mais contato com eles, principalmente os Argentinos e você é testemunha disto de quando estivemos em Buenos Aires, a consideração e a amizade que eles tem pela gente é muito bacana.
 
Jonas - Você também tem trabalhado como guia para alguns estrangeiros, teria alguma história engraçada?
Nelson Borges - A história que mais me marcou com os estrangeiros foi uma vez o Saltman veio pescar em Campo Grande - MS e eu o levei ao rio Taquari e chegando ao local onde normalmente fazíamos os arremessos indiquei uma pedra a ele e disse-lhe, olha, arremesse ali faça o leque e comece a recolher, enfim dei as dicas e subo o rio vadeando e pescando alguns também, para minha surpresa quando eu cheguei próximo, ele estava sentado e numa posição que parecia que estava chorando isto me trouxe muita preocupação, eu não sabia se ele estava tendo algum mal repentino e me dirige a ele para perguntar o que estava acontecendo, rispidamente ele me disse, vá embora porque você não entende estas coisas e aí fiquei muito preocupado achando que eu talvez tivesse feito alguma coisa que o desagradou, continuamos a pescar no final da tarde pegamos o barco para voltar e coincidentemente sentei ao seu lado, logo que o barco saiu ele colocou a mão em meu joelho e me disse, Nelson desculpe-a atitude mas tem uma coisa que você precisa Ter noção, se eu chegar hoje nos Estados Unidos e disser que você tem um belo rio , isto é lugar comum, mas o que tem de peixe é uma coisa impressionante, se você olhar para o barranco você ira perceber que todas as pessoas que estão na margem e com uma linha na água tem peixe na ponta, eu nunca havia percebido isto e nesta hora comecei a observar e fui apontando outro peixe, outro peixe, e vi que fato ele tinha razão, uma coisa que eu não esqueço e ficou registrado, infelizmente este meu amigo faleceu no ano passado, também tive a oportunidade de pescar com sua esposa em Junin de los Andes onde aprendi muito com eles, aliás o lugar onde eu vivo nunca tive com quem falar a respeito de fly , diferentemente de São Paulo onde você liga para seu amigo, aqui eu sempre tive que caminhar sozinho, os 12 anos que fui pescar trutas na Argentina foram sempre uma escola para mim onde conheci grandes mestres do fly, como, George Donovan, Charles Radziwil, Baby Anchorena e que tive o prazer de pescar com eles, isto para mim era fantástico eu não posso retribuir a eles tudo o que eu pude aprender nestes 12 anos na Argentina.
 
Jonas - Já pescou em algum país estrangeiro?
Nelson Borges - Eu pesquei na Argentina, Chile, Paraguai, Estados Unidos.
 
Jonas - Sei que você é dono de uma biblioteca invejável, tem idéia da quantidade de livros de Fly?
Nelson Borges - Eu tinha uma avidez incrível pôr conhecimento então eu me dediquei a compra de livros, eu cheguei a um ponto que recebi os catálogos e assinalava tudo que era lançamentos e mandava vir com isto constitui uma biblioteca invejável, eu creio que deva Ter mais de 400 livros, uma parte está comigo e outra estão encaixotados em um depósito, como eu não tinha com quem dialogar os livros acabaram sendo meus parceiros aonde aprendi tanta coisa, quero deixar registrado, existe uma pessoa nos Estados Unidos, Lefty Kreh, eu já o acompanho em suas matérias a 38 anos eu nunca vi cometer um absurdo, eu o acho um cara incomum tal a seriedade que ele descreve e se propõe a fazer as coisas, então eu me tornei um fã de carteirinha de Lefty Kreh. Tanto é que um dia eu pedi um livro de arremesso de Lefty kreh e eu lia o livro durante o dia e a noite eu me dirigia a uma avenida famosa aqui em Campo Grande com gramado e ficava treinando os arremessos, enquanto isto a minha esposa ficava sentada em um banco e tentava me corrigir, dizendo, O loop está muito aberto, o loop está muito fechado, sempre comparando as fotos que ela via no livro, então posso dizer sem o menor constrangimento que tudo o que eu devo em termos de arremesso foi graças ao Lefty Kreh, nada mais justo homenagea-lo nesta entrevista.
 
Jonas - Para quem não quer fazer um curso de atado, o quê você indicaria para quem está começando, livros ou fitas de vídeo? Alguma dica (s)?
Nelson Borges - Para quem não quer fazer um curso de atado eu indicaria o livro "The Fly Tier's Benchside Reference to Techniques and Dressing Styles" by Ted Leeson / Jim Schollmeyer, acredito ser este o livro mais completo um consultor imediato para qualquer tipo de dúvida, no meu entender a obra mais completa que ja foi feita, qualquer um que prestrar atenção poderá absorver as técnicas necessárias para atar qualquer mosca. A dica que eu dou , a qual também utilizo, todas as vezes que eu vou montar um novo fly eu monto e desmonto umas cinco vezes consectivas até que de repente você chega em um estágio que você domina todos os movimentos e acaba sendo automático, então,perseverança, montar e desmontar até que chegue a um resultado ideal é a dica melhor que pode ser feita.
 

 

Agradecimentos

Gostaria de registrar aqui meu agradecimento e reconhecimento a alguns amigos, Caetano Adamo, Fabio Morganti e Claudio Noschesi, pescamos muitos anos juntos e aproveitamos pra valer, vimos coisas que hoje infelizmente não existem mais, se temos uma preocupação é preservar o que ainda existe.

Entrevista: Jonas