HISTORIA DE UM RECORDE ABSOLUTO

De Marcelo Moralles baangler@arnet.com.ar

Tradução livre Johanes "Jonas" Duarte tfa@theflyangler.com.br


A Busca, briga e captura do dourado mais impressionante fisgado com uma mosca

    Muitas das minhas memórias de pesca tem os dourados como protagonistas, foram os primeiros peixes realmente combativos que se fisgaram em minhas iscas artificiais e nunca se omitiram de testar minhas habilidades buscando este peixes em todos os mais diversos lugares.

    Desta vez o encontro seria no rio Uruguai na região de Concordia, um pesqueiro que dia a dia está se convertendo em uma legenda devido aos tamanhos de seus dourados. Desde a construção da represa de Salto Grande a imigração dos peixes neste lugar mudou radicalmente e tem surgido um lugar de pesca totalmente diferente ao que existia antes do Salto Grande ficar embaixo de dezenas de metros de água. Hoje os peixes chegam até a barragem e não encontram facilidades nas escadas e com isto ficaram acostumados a viver abaixo das comportas produzindo um fenômeno que geralmente é comum a todas as represas hidroelétricas.

    Grande quantidade de peixes forrageiros se agrupam nos primeiros quilômetros de águas abaixo das comportas e os peixes predadores tiram proveitos desta concentrações encontrando vida fácil e prolongada.

    Em Concordia faz tempo que os dourados alcançam tamanhos impressionantes pôr isto eu com meu companheiro de revista "Vida Salvage", Marcelo Pérez meio que pôr brincadeira meio que a sério decidimos ir em busca de recorde mundial sem sequer pensar que poderíamos experimentar. Héctor Bradanini nos esperava na tarde de Domingo em sua casa que domina a margem do rio. Acabara de terminar uma pescaria com alguns clientes no Salto Chico e nos comentou que haviam fisgado com iscas natural um dourado de 15 quilos, seguido de alguns menores. No Salto Chico não faz muito tempo que Héctor embarcou um monstro de quase 25 quilos, um dourado que as fotos impressionam.

    Tínhamos a firme idéia de pescar algo grande com mosca e saímos sem perda de tempo ainda que as condições eram bastante desapontadoras. O rio estava altíssimo e muito encrespado pôr um forte vento proveniente do leste que aproximava uma preocupante tormenta. Fomos navegando as águas acima do Salto Chico e começamos a buscar os cardumes na águas abaixo do Camping La Tortuga. As comportas podiam ser vistas a uns mil metros, ameaçadora com seus vertedouros abertos produzindo uma forte correnteza mesmo nesta distância. Nuvens de vapor se elevam para indicar a potência das águas que são provenientes do lago que se estende misterioso e enorme do outro lado. A maior concentração de peixes sem dúvida está mais perto das comportas porém esta é uma área proibida até que se regulamente a pesca esportiva no local. Quando isto acontecer seguramente Concordia oferecerá os dourados mais grandes que existem aos pescadores comprometidos em cuida-los. Vimos vários dourados saltarem na superfície porém não tivemos sorte com moscas, Héctor embarcou com grande isca naturais vários peixes e que foram logo devolvidos a água. Fazia bastante frio e o vento cada vez mais castigava e pôr isto decidimos regressar antes que a escuridão nos alcançasse. Fomos para o alojamento onde nos esperavam com algumas delicias que rapidamente nos fizeram esquecer o mal tempo e resultados negativos com mosca.

    Pensando nos gigantes que havíamos visto na superfície e que Héctor tinha fisgado, novamente preparamos o equipamento e acomodamos nas caixas as moscas mais volumosas que tínhamos, enquanto isto comentávamos sobre os recordes anotados no livro da IGFA sabendo que qualquer peixe embarcado daqueles que havíamos visto poderiam tranqüilamente fazer história. Acordamos um pouco tarde e com calma demos conta de um bom café da manhã. O tempo seguia nublado porém os ventos se haviam convertido em uma fraca brisa de noroeste, algo que nos deixou bastante animados.

    Antes de sairmos para o rio fomos ver o lago, sem dúvida pelo seu tamanho e suas baías a pesca tem que ser muito boa mas está totalmente inexplorada. Imaginava traíras de dois dígitos enquanto apressávamos o passo para encontrarmos com Héctor em sua casa, quando chegamos ele já estava pronto para os mosqueiros. Novamente navegamos rio acima, estávamos completamente sozinhos no rio pôr ser Segunda-feira. Já não havia pessoas nas margens e no ar presentinhamos algo especial. Chegamos ao lugar onde os dourados saltavam as duas e meia da tarde, e não tardamos em ver atividade. Com moderação os dourados colocavam seus dorsos para fora da superfície em uma espécie de jogo que não conseguíamos entender. Não parecia que estavam comendo já que os movimentos eram suaves e bem diferentes aos que estão acostumados os dourados a atacar suas presas. Marcelo me mostrou sua caixa de moscas buscando um conselho e sem pestanejar tirei uma mosca totalmente negra de uns 20 centímetros de comprimento, com olhos de chumbo e cabeça no estilo Mudder das que havíamos atado com Juan Pablo Tam pensando nos grandes. Pensando na largura da boca destes dourados eu falei a Marcelo que colocasse um pedaço de arame de aço bem comprido em seu leader e para não Ter dúvidas ele atou uns 60 centímetros com uns nós que não tinham boa pinta, sem entretanto agüentaram a provação. Vinte libras de nylon na ponta do leader cônico completaram o sistema junto com uma linha de afundamento rápido de 225 grains e uma vara Sage DS2 de número 8, demasiado leve para o lugar.

    De minha parte estava com um mosca parecida porém com a cabeça cor de rosa, fio grosso, leader curto e uma linha de 400 grains que pensava mandar ao fundo buscando os grande. Tive um ataque quase em seguida de um bem grande que passaria dos 10 quilos, o dourado veio como um raio até o barco, saltou pegando com força no crânio e logo correu de volta soltando a mosca. Mais dois ataques serviram para me dar conta que uma vara de número 10 não é nenhum exagero para este lugar.


    La coisa estava indo bem ainda que não havíamos conseguido embarcar nenhum até a lancha. Marcelo fez um arremesso longo a minha esquerda desejando afundar bem a linha e logo começou a recolher a mosca sem grande aflição. Em determinado momento tudo se mudou pôr um brutal ataque, as primeiras cabeçadas não deixaram dúvidas que acerca do tamanho mas então veio o primeiro salto a poucos metros do barco.

 

    Fiquei mudo ao ver o dourado mais grande que havia visto em uma vara de fly, saltando com as branquias abertas vaporizando a água ao seu redor e reluzindo seu lombo de uma cor maravilhosa. O gigante voltou a saltar correndo uns metros sobre a água reluzindo core de guerra e um poderio incontrolado. Eu gritei a Marcelo que ele tinha na ponta de sua linha o maior de todos, o monstro dos sonhos, mas já não podia prestar atenção concentrado como estava em não cometer um mínimo erro.

    Os saltos me fizeram lembrar do filme " O velho e o mar", o dourado saltando de costas parecia o marlin do velho e a briga que acontecia não deixava nada a desejar ao filme.

    O dourado decidiu buscar o fundo e nada rio abaixo, não havia forma de para-lo com um equipamento tão leve mesmo que pese que Marcelo o colocava ao limite. Derivamos com a lancha centenas de metros sempre com o grande peixe dominando a situação, várias vezes a vara esteve no limite de sua vida mas encorajávamos a Marcelo a desfrutar da briga com calma. Os minutos passavam sem cessar e foi uma eternidade o tempo necessário para colocar o dourado ao lado da lancha, seguia profundo como se não dera conta que estava cravado no anzol e a potência da vara não conseguia subi-lo.

 

Héctor estimava o peso em 15 quilos, a mim me parecia mais grande mas sempre me equivoco com os dourados que pôr serem corpulentos parecem pesar muito mais do realmente pesam, sem contudo este me havia impressionado como enorme que era. Cinqüenta minutos haviam se passado e Marcelo ia da proa a popa da lancha a mercê do peixe que continuava no fundo sem ceder para nada apesar que a vara pôr vezes tomava curvas irreais das quais somente se salvava pôr nossos gritos. A esta altura Marcelo estremecia como uma folha e o cansaço já o deixava esgotado mas não o deixamos fazer nenhuma trapaça, cedo ou tarde o dourado iria subir e tínhamos todo o tempo do mundo, se a esta altura ainda não havia cortado ou soltado então estávamos bem, o dourado era quem tinha que se preocupar. Lentamente e colocando até a alma, Marcelo o foi subindo até que apareceu suas costas na superfície, eu fiquei mudo pensando no animal selvagem que teria adiante, Héctor apenas murmurou, deve alcançar uns vinte quilos. Aproxima-lo a lancha para agarra-lo com o Boga Grip foi um pandemônio, para começar a vara não dava para traze-lo e tocar na linha era uma responsabilidade que eu não me animava em tomar. Com cuidado e usando o butt da vara como na pesca de mar Marcelo colocou o dourado ao lado da lancha e assim conseguimos embarca-lo. Estava cansado e não se movia, pôr sorte não houvera nenhum desastre. Nos abraçamos todos ante a façanha de haver capturado um dourado que somente se da uma vez em um milhão de lançamentos, um dourado passará a história e fará de Concordia uma Meca para os que querem medir força com os maiores. Nós o pesamos com uma balança digital e quase chegou a vinte quilos, Marcelo decidiu homologa-lo na IGFA e as regras exigem que devem ser pesado em terra em uma balança certificada pelo que se decidiu em conserva-lo. Mais de uma hora se havia passado desde o ataque e havia pouca luz porém resolvemos voltar a buscar o cardume para mais alguns arremessos. Novamente tive um ataque brutal o dourado começou a descer o rio com uma velocidade e força inusitadas tirando linha e muito backing ao mesmo tempo que eu regulava o freio da minha Abel ao limite. De nada serviu, o bicho seguia rio abaixo com a força de um trem e aí gritei a Héctor que o seguisse, antes que começasse a mover a lancha a mosca se soltou e eu fiquei sem nenhum grande desta vez. Com calma soltei o freio da carretilha e comecei a recolher mais de 100 metros de backing que ele havia tomado, tentei até que a luz se foi mas sem obter outro ataque enquanto alguns dourados vinham a superfície como se fossem golfinhos brincando.

    Marcelo continuava sentado tremendo, curiosamente o tremor durou até o começo da noite quando sentados no living da pousada e olhando novamente o libro da IGFA não podíamos pensar em outra coisa que na sorte deste dia.

    O dourado havia pesado 19.500 quilos em uma balança de um açougue e metade da população local já sabia do acontecido, porém os jornais, a televisão e tudo que veria seria outra historia. Um arremesso em um milhão se havia feito realidade.


 
Agradecimentos

Marcelo Moralles famoso guia e pescador de Buenos Aires na Argentina proprietário da bonita fly shop Buenos Aires Anglers e representante da Sage na Argentina e também a Marcelo Pérez pescador deste magnifico recorde que sem ele nada disto teria sido possível.