Fazendo sua Vara de Bambu
 

Texto:
Gregório
Fotos:
Sergio E. Marchioni


       Agradecimento especial para meus dois amigos Beto Saldanha, que com toda a paciência me passou todas as informações técnicas necessárias e me colocou em contato com o caniço de bambu; Jorge Yamaguchi, que me mostrou como a terapia de trabalhar com as mãos vem melhorar a vida da gente.

 
 
 

       Já estou na minha sexta lua de mel! Calma, estou falando de caniços de bambu. Cada uma é totalmente diferente da outra e cada uma é uma lua de mel. Espero que, para os próximos vinte anos tenha muitas e muitas luas de mel, com morenas, loiras, lentas, rápidas, altas e pequenas.
 
       Eu prefiro chamar caniço à vara.

 

       Comparar um caniço de bambu com uma vara de grafite é a mesma coisa de que comparar banana com mamão. Nada a ver, são totalmente diferentes.
 
       Vamos tentar, nesta sessão, passar algumas informações básicas para que os amigos que queiram iniciar na atividade de fabricação de caniços de bambu.

 
 

       Por sorte, São Paulo tem a matéria prima mais importante para a fabricação destas varas – o bambu, que foi trazido pelos imigrantes japoneses. Apesar de nós não termos o bambu Tonkin (Arundinaria amabilis), nós temos o bambu Hachiku (Phyllostachys nigra henonis), além também do Moso (Phyllostachys pubescens). Esses bambus também são indicados para a fabricação de varas de numerações pequenas - #2, #3, #4 e #5.
 
       Num futuro próximo vamos colher o Tonkin, que já foi plantado nas proximidades de São Paulo.

 

Ferramentas

 

       Para a fabricação de seu caniço de bambu, são necessárias algumas ferramentas especiais. Não que sem elas não seja possível a fabricação, mas com as ferramentas certas, sua construção é mais fácil e precisa.

"Pré-Gabarito"


 
       O "pré-gabarito" são dois gabaritos distintos feitos em madeira dura. O primeiro deles tem oitenta e dois graus e o segundo tem sessenta graus. Antes das lascas de bambu passarem pelo gabarito metálico elas serão pré-laminadas nos dois gabaritos de madeira.

 
 
  Gabarito


 
       São duas barras de metal com um canal cônico e parafusos de ajuste, onde o bambu será laminado.

 
Plainas


 
       São necessários dois tipos de plainas diferentes.
 

 
Block Plane – pode ser encontrada de várias marcas, a que uso é a Stanley, modelo 9 ½.
 
       Ela é uma plaina de boca ajustável, com ângulo de vinte e um graus, onde você consegue os cortes mais finos.
 
       A melhor lâmina para equipar sua plaina é a Hock Blade, que é uma lâmina de aço super duro. Eu gosto de afiá-la com uma angulação de trinta graus.

 
 
 


 
       Scraping Plane – é um raspador de ângulo negativo de três graus. Sua função é fazer o ajuste fino da medida das varetas triangulares que compõe o blank.

 
Raspador Manual


 
       Pode ser feito a partir de uma lâmina de aço ou mesmo uma lima triangular. Sua função é raspar a casca das lascas.

 
 
  Pedra de Afiar


 
       Para obter bons resultados de afiação, a utilização de pedras de água japonesas sintéticas combinadas – 1000/6000.

 
Aparelho de Ajuste de Ângulo


 
       Esta ferramenta serve para dar o ângulo correto na lâmina durante a afiação. Eu uso a marca Veritas.

 
 
  Paquímetro


 
       Não economize dinheiro neste aparelho de medição. Eu prefiro o paquímetro digital com conversão milímetro/polegada, pois toda a literatura de fabricação de caniços de bambu é baseada em polegada.

 
Relógio Comparador
com Ponta Cone de 60 graus


 
       Outro item muito importante é usado para comparar a profundidade do canal do gabarito. Sem ele é quase impossível regular o gabarito.

 
 
  Morsa


 
       Use uma morsa de duas a 3 polegadas é mais do que suficiente para amassar os nós do bambu.

 
Soprador de Calor


 
       Eu gosto dos sopradores com ajuste de temperatura de 100 a 600 graus. Suas funções são: amolecer os nós do bambu para poderem ser amassados na morsa, endireitando as lascas e também para temperar o bambu.

 
 
  Lima


 
       Utilizada para limar os nós.

 
Facão


 
       Utilizado para lascar o bambu.

 
 
  Binder


 
       É uma máquina para fazer a fixação através da amarração das varetas por um cordão.

 
Tubo de Imersão


 
       É um tubo utilizado para envernizar o blank através de sua imersão. Utiliza-se um motor de baixa rotação (6 rpm) para puxar o blank depois de imerso numa velocidade lenta e controlada.

 
 
  Forno


 
       Há várias maneiras de se fazer um forno para temperar o bambu. O mais simples é feito de um tubo de cobre de 1 a 1 ½ polagadas com aproximadamente 1,5 metros de comprimento. Este tubo é aquecido através do soprador de calor.

 
Ferro de Passar Roupa


 
       Um ferro comum de passar roupas, utilizado para tirar a ondulação do blank antes de ser envernizado.

 
 
Lixas


       Utilize lixas de 200 a 1200 para o acabamento.
 

Óculos de Proteção


       Para sua segurança sempre utilize óculos de proteção.

 

A Colheita

 
 

       Segundo os entendidos, a melhor época de colher bambu é quarenta dias depois do final das chuvas. Para nós, isso significa os meses de junho e julho. O motivo é que nessa época o bambu contém menos açúcar, portanto, não é tão suscetível aos fungos e parasitas.
 
       A melhor idade de corte é de 4 a 7 anos, pois nesse período as fibras do bambu atingiram sua melhor maturidade.

 

       A melhor parte do bambu para ser utilizada começa a partir de um metro e meio do chão.
 
       A distância entre os nós do bambu varia muito, o ideal seria de 35 a 50 cm.
 
       Dependendo do tipo de bambu o diâmetro ideal varia. No caso do Tonkin é recomendado um diâmetro acima de 1,5 polegadas; no caso do Hachicu, a minha preferência é acima de 2 polegadas.

 
 

A Secagem

 
 


 
       A secagem do bambu pode ser feita através de uma estufa cujo tempo de secagem é mais reduzido ou por secagem natural.
 
       A secagem natural deverá ser feita com o bambu em pé e apoiado na parede ou deitado e apoiado em vigas. Sempre à sombra e em um lugar bem seco e ventilado. Eu prefiro a secagem natural, pois faço colheitas grandes e os uso no próximo ano.

 

Preparação das Lascas de Bambu

 


 
       Após a escolha, a primeira coisa a fazer é marcar com uma caneta para retro-projetor, por exemplo, a parte de baixo do bambu.
 
       Primeiro você deve lascar o bambu ao meio.
 
       Em seguida divida em três partes e lasque o bambu.
 
       Cada uma dessas partes deverá ser novamente lascada em quatro partes, porém sempre dividindo ao meio.

 
 
 
 

Alinhamento de Nós

 
 


 
       Primeiramente, separe 6 lascas de bambu.
 
       A proposta do alinhamento dos nós é deixar o blank com a máxima resistência.
 
       Há várias técnicas de alinhamento. As duas mais importantes são 2x2x2 ou Garrison, que é espiralada.
 
       Depois de alinhados, meça e corte as varetas.
 
       Marque com caneta vermelha a parte de baixo do bambu, sendo que esta parte é a que vai em direção das raízes.

 
 
 
 

Limando os Nós

 


 
       Lime o nó interna e externamente. Cuidado para não atravessar e danificar as fibras.

 
 
 
 

Raspagem

 
 


 
       Consiste na raspagem da camada da cera superficial das lascas até chegar nas fibras. Para isso utilize o raspador manual.

 

Amassando os Nós

 


 
       Esse processo consiste em deixar os nós retos, pois originalmente são ondulados. Para isso esquente o nó com o soprador de calor e prense-o na morsa esperando esfriar.

 
 
 
 

Alinhando as Lascas

 
 


 
       Depois que as seis varetas estiverem com seus nós amassados, verificaremos se elas estão retas. Para deixá-las assim, utilizaremos um pouco de calor através do soprador, endireitando-as com a mão.

 

Pré-gabarito de 82 e 60 graus

 


 
       É a primeira fase de corte das lascas para prepará-las para o gabarito de aço. Primeiro a lasca será aplainada no gabarito de 82 graus e depois passará ao gabarito de 60 graus.

 
 
 
 
 

Temperando o Bambu

 
 


 
       Junte as lascas que foram aplainadas a 60 graus, amarrando-as. Coloque o conjunto dentro do tubo metálico e no outro extremo conecte o soprador de calor. Cuidado para não exagerar no tempo e na temperatura.
 
       Esse processo tem como função tirar as torções e temperar.

 
 
 
 

Regulando o Gabarito de Aço

 

       O gabarito de aço deverá ser regulado de acordo com as medidas de cada blank. Há infinitas medidas diferentes, escolha a que mais lhe convier.

 
 
 
 

Aplainando as Varetas

 
 
 


 
       Primeiro cuidado a ser tomado é colocar a parte pintada das lascas (parte de baixo) na parte mais larga do gabarito, assim o blank terá o mesmo sentido e continuidade do bambu. Para aplainar as varetas utilize a Block Plane e por fim o Scraping Plane.
 
       Obs: Sempre se aplaina a parte de dentro das varetas, nunca a casca.

 
 
 
 
 

Colando as Varetas

 

       Uma técnica muito boa utilizada é envolver com fita crepe as 6 partes do blank. Fazer isso de 20 em 20 cm. Depois com uma lâmina, corte num sentido só todas as fitas, assim você poderá abrir as varetas sem tirá-las da posição.

 
 
 
 
 


 
       Há vários tipos de colas que podem ser utilizadas. A minha escolha foi a Cascophen bi-componente. Esta cola é utilizada para as embarcações de madeira.

 


 
       Aplique a cola bi-componente, feche novamente as 6 partes e comece a enrolar com o binder (pode ser feito também manualmente).
 
       Com cuidado e enquanto a cola seca, vá alinhando o blank até deixá-lo reto.
 
       O tempo de secagem é de 24 horas.

 
 
 
 
 
 
 

Retirando a amarração / limpeza

 
 


 
       Depois de seca, utilize um canivete para cortar as linhas de amarração, desenrolando-as do blank.

 


 
       Para proceder a limpeza do excesso da cola no blank, utilize o raspador manual.

 
 
 


 
       Caso o blank ainda não esteja cem por cento reto, utilize o ferro de passar roupa com o blank em cima de uma mesa bem plana, esquentando o blank passando o ferro nas seis facetas até ficar o mais reto possível.

 


 
       Com uma lixa bem fina, dê o acabamento nas facetas da vara. Eu utilizo lixas números 300, 600 e 1200.

 
 

Colocando os ferrules

 
 


 
       Uma vez determinado o comprimento da vara as partes do blank são cortadas nas medidas certas e os encaixes (ferrules) são colados com resina epóxi.

 
 
 


 
       Na parte mais grossa (butt) é colado o cabo e o fixador da carretilha.

 
 
 
 

Identificando a vara

 
 
 
 


 
       Para quem vai fazer várias diferentes é importante a identificação de cada uma. Por isso a marcação pode ser feita com bico de pena preta ou, para facilitar, utilize Uni Pin fine line (0,5).

 
 
 

Envernizando o blank

 


 
       O acabamento com verniz é feito a base de imersão num tubo com verniz de poliuretano. Obtive bons resultados com verniz PU Brilhante da marca Lukscolor.

 
 
 


 
       A técnica é mergulhar o blank dentro do tubo de imersão, com a ponta do blank fixado num fio ligado a um motor de baixa rotação (6 rpm), assim quando o motor for ligado, o blank vai estar subindo numa velocidade extremamente baixa. É a melhor maneira de obter o acabamento perfeito.

 
 

       Esse processo é repetido de 4 a 5 vezes dependendo da densidade do verniz. Eu normalmente acrescento 20 % de solvente. O tempo de secagem entre uma imersão e outra é de aproximadamente 8 horas. Após todos os banhos, espere em torno de 3 a 4 dias para a secagem e cura do verniz.

 
 

Finalizando - Colocando os passadores e aplicando o verniz

 

       Depois de escolhida a posição certa, os passadores são amarrados e o verniz utilizado para dar o acabamento na amarração é o mesmo verniz utilizado no acabamento do blank. O processo de envernizamento da amarração é repetido de 4 a 5 vezes.